Por Catarina Gomes, in Jornal de Notícias
Portugal tem acompanhado a inovação em termos de tecnologias da saúde mas instituições públicas e privadas tanto usam "tecnologias de ponta como equipamentos obsoletos", o que cria desigualdades na prestação de serviços, constata Ana Pascoal, uma das autoras de um estudo de caracterização do estádio de inovação tecnológica em saúde encomendado pela Associação Portuguesa de Seguradores, que ontem organizou uma conferência em Lisboa.
"Não é possível dizer [entre unidades públicas e privadas] que umas são mais modernas que outras", diz a professora de Engenharia Clínica na Faculdade de Engenharia da Universidade Católica, notando que é transversal a coexistência de "tecnologia muito inovadora e muito antiga". O que faz com que "na prestação haja grandes desigualdades ao nível da tecnologia", com "uma assimetria" que tende a ser de concentração dos meios mais modernos em grandes centros urbanos.
Por exemplo, na Radioterapia conclui-se que a maioria dos equipamentos é obsoleta, "com um número considerável de unidades com mais de dez anos e tecnologia já não recomendada internacionalmente para utilização clínica", lê-se no estudo.
Mas mesmo quando a tecnologia de ponta está no terreno isso não quer dizer que esteja a ser bem aproveitada. "Há um subaproveitamento da tecnologia devido a hábitos instalados", nota Ana Pascoal, e dá um exemplo: uma unidade pode ter radiografias digitais e continuar a imprimi-las em vez de serem vistas no monitor.
Ana Pascoal diz que isto acontece por várias razões, casos da falta de cooperação entre hospitais, universidades e indústria do equipamento e da inexistência de equipas multidisciplinares que incorporem especialistas em tecnologias da saúde, assim como a carência de formação de base dos médicos nestas áreas.
Dizer que, em Portugal, o número de aparelhos de TAC por milhão de habitantes está 44 por cento acima da média da União Europeia a 15 - 25,8 equipamentos por milhão de habitantes - não é necessariamente um bom sinal, sublinha a investigadora. "É importante saber se a aquisição assenta em evidência, é preciso estudos para saber como estão a ser usados."