in Jornal Público
O Presidente da República considera que há "um problema de qualidade" na democracia portuguesa, mas que não se deve "ceder ao populismo fácil de criticar a classe política", antes procurar dar o exemplo.
Numa entrevista publicada hoje no jornal A Voz de Loulé, Cavaco Silva recusa "especular sobre os resultados" das sondagens que lhe dão a vitória na primeira volta das presidenciais e faz um apelo à participação eleitoral, dizendo que "a verdadeira sondagem será realizada no dia 23 de Janeiro".
A propósito da apreensão que manifestou pelo "desprestígio da classe política" portuguesa, interrogado sobre o que pensa fazer para que esta ganhe prestígio, Cavaco Silva declara: "Existe, de facto, um problema de qualidade na nossa democracia, para o qual eu alertei várias vezes. Não podemos ceder ao populismo fácil de criticar por criticar a classe política."
"Antes disso, temos de pensar naquilo que nós próprios devemos fazer pelo país. Não irei fazer promessas que não poderei cumprir. Um Presidente responsável, no quadro dos poderes que a Constituição lhe confere, não pode prometer que vai alterar uma situação que diz respeito a todos, começando pelos agentes políticos, que devem dar o exemplo. Esse é um dos meus modos de actuação, a magistratura do exemplo", completa.
Sobre as sondagens, considera "essencial que os portugueses se mobilizem": "Nunca há vitórias antecipadas" e "o que está em causa nas próximas eleições é demasiado importante para que nos deixemos alhear". Está em causa escolher "o candidato que dá mais garantias de exercer um mandato presidencial para os tempos difíceis que o país atravessa", especifica.
Cavaco Silva remete para os portugueses a explicação para as duas maiorias absolutas que obteve em eleições legislativas, mas acrescenta: "Creio, sem falsa modéstia, que os portugueses reconhecem em mim alguns valores: o trabalho, a competência, a honestidade, o rigor nas decisões. Sobretudo, o falar verdade, não iludir as dificuldades. Os portugueses sentem-me como, de facto, sou: um português como todos."
Sobre a sua entrada na política activa, observa: "Há muita coisa que a vida vai preparando para nós quase sem darmos por isso. Olhando para trás, vejo o meu encontro com Francisco Sá Carneiro como decisivo". Lusa