É consensual que as amizades se desenvolvem em estádios bem precoces do desenvolvimento e que as amizades que as crianças fazem durante os seus primeiros anos de vida irão tornar-se um grande sistema de apoio.
O que significa amizade para os mais pequeninos? Será que percebem o quão importantes são as amizades nos primeiros anos de vida para a sua saúde mental presente e futura? Desde os primórdios dos tempos que somos animais de relação. A antropologia mostra que a necessidade de fazer amigos e aliados foi a força motriz da evolução humana. Isto terá feito com que os nossos antepassados sobrevivessem a doenças, fome e predadores, unindo esforços. E parece que ao longo da nossa evolução a selecção natural terá favorecido os humanos que melhor “liam” o outro e criavam relações. É aí que se julga residir a origem dos “cérebros sociais” com que os bebés nascem já equipados.
Esta capacidade de criar relações e amizades é crucial para o nosso funcionamento em grupo e sociedade, mas também é fundamental para o nosso bem-estar e para a nossa saúde mental. Os primeiros anos de um bebé formam a base do seu desenvolvimento cerebral e saúde mental futuros, por isso as relações que a criança desenvolve nestes primeiros tempos vão ter um enorme impacto no seu bem-estar e desenvolvimento saudável.
Uma criança que tem a possibilidade de, através da relação com os seus pais, saber que eles estão lá para suprir as suas necessidades e confortá-la em momentos de angústia crescerá com uma vinculação segura, a sentir-se digna do amor do outro. Esta vinculação é a base da nossa saúde mental e é o que permitirá desenvolver relações fortes e duradouras com os seus pares, as amizades. No entanto, nem todas as crianças terão este caminho facilitado e algumas irão precisar de intervenção extra para que consigam desenvolver estas competências sociais.
Inúmeras investigações têm demonstrado que os mais pequeninos são capazes de desenvolver laços íntimos, de apoio (e recíprocos) com certos amigos. E que as suas noções de amizade são muito mais “sofisticadas” do que aquilo que poderíamos pensar. Pensarmos que não sabem o que significa a amizade prende-se muito mais com o facto de as crianças com um ou dois anos não serem ainda muito exímias a descrever o que pensam e sentem, desde logo pelo seu vocabulário ainda pouco desenvolvido, ou até por não conseguirem articular os seus pensamentos. Mas é consensual que as amizades se desenvolvem em estádios bem precoces do desenvolvimento e que as amizades que as crianças fazem durante os seus primeiros anos de vida se irão tornar um grande sistema de apoio.
Embora os benefícios da amizade para o desenvolvimento da primeira infância sejam por vezes negligenciados, a amizade pode ter um tremendo impacto na saúde física e mental. As amizades criam um sentimento de pertença e segurança que contribui para a qualidade de vida, ajudando a diminuir o stress e a lidar melhor com mudanças. Este sentimento de pertença e a capacidade de a criança estabelecer relações fortes gera uma elevada auto-estima, promovendo o foco e a atenção na aprendizagem e, assim, melhores resultados escolares.
Enquanto pais, o que podemos fazer para ajudar os nossos filhos a estabelecer estas conexões fortes com os pares? Ser um bom exemplo. Os mais pequenos são esponjas e aprendem muito mais com o que fazemos do que com aquilo que dizemos, por isso certifique-se de modelar um bom amigo. Evite “falar mal” dos seus amigos e mostre que a relação que tem com este ou aquele amigo vem já desde há muitos anos. Aproveite também para modelar a compreensão e a empatia pelos outros e pelas suas diferenças.
Respeite a personalidade do seu filho. Não o compare com outros nem force amizades com crianças que claramente não têm os mesmos interesses nem agradam assim tanto ao seu filho. Pelo contrário, se o seu filho cria uma amizade que claramente lhe dá alegria e o deixa a sentir-se bem, ajude-o a fomentar essa amizade, tentando marcar encontros com essa criança e criando oportunidades para que ambos brinquem e passem um bom tempo juntos.
Reforce os bons amigos. Evidencie comportamentos positivos do seu filho com os seus amigos e vice-versa, para que ele possa validar essas conexões com os outros.
Qualidade em vez de quantidade. No que se refere às amizades, a regra de ouro é a qualidade das relações, não a quantidade de amigos.
Embora a construção das relações de amizade seja um dos mais desafiadores estádios de desenvolvimento socioemocional nos primeiros anos de vida, com o apoio dos pais as crianças irão conseguir fazer o seu caminho no desenvolvimento de amizades significativas para toda a vida.