Os avanços no campo da medicina têm possibilitado o prolongamento da vida das pessoas para lá do expectável, sobretudo por comparação com o que ocorria no passado. Porém, nem sempre essa maior longevidade se traduz, por si só, em bem-estar. É aqui que entram os cuidados continuados integrados, cuja importância foi objeto de análise na oitava edição do Conversas por Boas Causas, uma rubrica organizada em parceria pela TSF, "Jornal de Notícias" e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML).
Inês Guerreiro, socióloga e antiga coordenadora da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, salienta que, "de facto, temos uma sobrevida longa e que pretendemos que seja saudável, mas também sabemos que, com a idade, vamos acumulando problemas e dificuldades na rotina diária que interferem na capacidade de sermos autónomos". Ora, conforme explica a socióloga, "a rede de cuidados continuados nasceu precisamente para dar resposta às necessidades das pessoas, sobretudo ao nível da reabilitação das suas capacidades funcionais e cognitivas". Um grande entrave à aplicação destes tratamentos em tempo útil prende-se com as listas de espera que, para Inês Guerreiro, colocam em causa o seu sucesso. "Esperar seis meses para entrar numa unidade de cuidados continuados compromete todo o tratamento desenvolvido a jusante porque a pessoa já pode ter as suas funcionalidades em risco e o trabalho que se vai iniciar não tem nada a ver com a continuidade de cuidados", afirmou a socióloga.
Opinião idêntica manifesta Ana Gomes, diretora dos cuidados continuados integrados da SCML, que refere que "ter mais anos implica também ter mais cuidados de saúde e de apoio social". Ana Gomes assevera igualmente que "a rede de cuidados continuados ainda está a crescer e vai ter muito que dar resposta às pessoas porque está muito aquém". Segundo esta dirigente da Santa Casa, "os cuidados agudos e hospitalares têm de ter uma sequência certa" para que, depois do regresso ao domicílio, "se evite o reinternamento".
País envelhecido
Portugal é o quarto país da União Europeia com a população mais idosa. Alentejo é a região do país mais envelhecida.
Santa Casa
SCML possui três unidades de cuidados continuados integrados, tendo tratado no ano passado cerca de 700 doentes.
Faltam apoios
Só 5% dos idosos em Portugal recebem apoio institucional, sendo as famílias ainda o principal amparo desta população.
Lista de espera
Há 1500 pessoas a aguardar vaga nos cuidados continuados e o número médio de utentes aumentou 88% entre 2019 e 2022.
Mais meios
Até 2025, PRR prevê a aquisição de 5500 novas camas para a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.