Desemprego registado aumentou em janeiro pelo sexto mês consecutivo. Economistas antecipam novas subidas
Depois de ter resistido durante meses, o impacto da incerteza associada à guerra na Ucrânia, da escalada da inflação e da subida dos juros, levando a um abrandamento da atividade económica em Portugal, começa a notar-se no mercado de trabalho nacional. Sinal disso, os dados publicados esta semana pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) dão conta de um aumento do número de desempregados registados no país pelo sexto mês consecutivo. Uma evolução em linha com a subida da taxa de desemprego apurada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Economistas ouvidos pelo Expresso falam em “fim de ciclo na descida do desemprego” e antecipam novos aumentos do desemprego este ano, ainda que afastem o cenário de incrementos expressivos.Em janeiro estavam inscritos nos centros de emprego em Portugal 322.086 desempregados, mais 15.081 do que no mês anterior, ou seja, face a dezembro de 2022, o que significa um aumento de 4,9%. Foi o sexto mês consecutivo de incremento do desemprego registado, indicam os dados do IEFP, numa tendência iniciada em agosto do ano passado. Se compararmos com julho de 2022, quando o número de desempregados inscritos nos centros de emprego atingiu mínimos históricos, com 277.466 pessoas, encontramos mais quase 45 mil desempregados.
Desemprego registado sobe pelo sexto mês consecutivo
Número de desempregados registados nos centros de emprego em Portugal
Ainda assim, o desemprego registado ficou em janeiro 9,5% abaixo do registado um ano antes, em janeiro de 2022. São menos 33.782 desempregados inscritos nos centros de emprego. Aliás, numa nota enviada à comunicação social, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social destaca que o número de desempregados inscritos no IEFP no primeiro mês deste ano “foi o segundo mês de janeiro mais baixo nos últimos 30 anos”
TAXA DE DESEMPREGO ESTÁ A SUBIR DESDE AGOSTO
Certo é que a subida do desemprego registado contabilizada pelo IEFP desde o verão passado está de acordo com os dados mensais apurados pelo INE a partir do inquérito ao emprego. E que indicam que, depois de vários meses estável nos 5,9%, a taxa de desemprego em Portugal — ajustada da sazonalidade — começou a subir em agosto do ano passado, para os 6%, chegando aos 6,7% em dezembro (último valor disponível).
O que significam estes números? “Sinalizam um fim de ciclo na descida do desemprego”, responde João Cerejeira, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. E vai mais longe: “Provavelmente, vamos observar aumentos ligeiros do desemprego ao longo do ano, embora não seja nada de dramático.” Uma evolução “em linha com a moderação da atividade económica em 2023”, continua o economista.
E nota ainda que os dados do IEFP mostram “uma tendência de redução das ofertas de emprego desde maio do ano passado”, apesar de “ter havido um aumento no mês de janeiro”. O que “também aponta para uma estagnação do mercado de trabalho e mesmo um aumento ligeiro do desemprego”.
“A tendência parece ser claramente de aumento do desemprego, embora mantendo-se ainda em valores baixos em termos históricos”, alerta, por sua vez, Pedro Martins, professor da Nova SBE e antigo secretário de Estado do Emprego.
MUDANÇAS NA LEGISLAÇÃO LABORAL PODEM PENALIZAR EMPREGO
Nas vésperas da entrada em vigor no país das alterações à legislação laboral, aprovadas na Assembleia da República no âmbito da Agenda para o Trabalho Digno, Pedro Martins manifesta também “preocupação” com o impacto que podem ter na evolução do mercado de trabalho nacional. “Haverá mais restrições à atividade das empresas a nível laboral, podendo levar a maior relutância nas respetivas contratações, o que não ajuda nesta tendência de aumento do desemprego.”
Há outros fatores a criar incerteza adicional no mercado de trabalho. A começar pela continuação da guerra na Ucrânia e por uma inflação ainda elevada — embora a descer. São “entraves ao funcionamento das empresas, logo, à sua dinâmica em termos de contratações”, aponta Pedro Martins.
Acresce o “contexto de alguma imprevisibilidade em resultado das rápidas mudanças tecnológicas que estão a ocorrer”, salienta o economista, destacando a “evolução espetacular ao nível da inteligência artificial”. Ora, “não se sabe que impacto terá tudo isto, até a curto prazo, no mercado de trabalho”, alerta, falando num “conjunto de fatores muito alargado e complexo”.
Tudo somado, “vejo nuvens no horizonte. Receio que o desemprego possa continua a subir”, remata.