in Correio da Manhã
Os pedidos de apoio à renda de casa dispararam este ano mais de 18 por cento em relação ao ano passado.
Em 2009, os 246 municípios que têm política de habitação social registaram cerca de 7200 pedidos de habitação social ou apoio à renda, sendo que este ano já deram entrada nos serviços dessas autarquias mais de 8500 pedidos.
Nesta altura, em Portugal são cerca de 220 mil as famílias que contam com algum tipo de apoio à habitação, que vai desde habitação social praticamente gratuita até aos subsídios para pagamento da renda, que pode ir até 75 por cento do custo do arrendamento. Só na Câmara de Lisboa, entraram este ano 4320 pedidos de habitação social ou de apoio à renda. No Porto, as solicitações dos últimos dez meses ultrapassam as 2500; em Braga eram, até ontem, 404.
Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), existem no País 97 085 fogos de habitação social. Na Grande Lisboa são 41 604 e no Norte 37 643.
"Os pedidos chegam todos os dias, mas as pessoas sabem que os processos obedecem a critérios muito rigorosos e que muitos são indeferidos. Com o desemprego a aumentar, é natural que esta valência social das autarquias também registe crescimento", disse ao Correio da Manhã João Nogueira, administrador da Bragahabit, empresa municipal de habitação de Braga.
De resto, nos últimos 15 anos as autarquias deixaram de investir na habitação social, passando a canalizar as verbas para os chamados subsídios ao arrendamento, evitando os municípios pesadas despesas com a manutenção dos parques habitacionais.
Outra consequência da crise, para além do crescimento do número de pedidos de apoio, é o crescimento do índice de incumprimento no pagamento das rendas. "Já há pessoas que ficam a dever rendas de 17 euros por mês", afirma João Nogueira.
MAIS UNIDOS NAS DIFICULDADES
Nos blocos de habitação social do bairro das Corunheiras, em Évora, se a vida já era difícil a nível financeiro para os moradores, a crise só agravou ainda mais os problemas. Mas, diz quem lá vive, quando estas situações apertam as pessoas "tendem a ser mais unidas", apesar das dificuldades sociais que se vão agravando com o tempo. "Tentamos viver um dia de cada vez, conforme podemos, com um grande esforço", disse Carla Rodrigues, de 37 anos, que mora no bairro com o marido e os três filhos, de 13, 16 e 20 anos. Actualmente
desempregada, referiu ainda que o agregado sobrevive apenas com um ordenado e a ajuda da paróquia de Nossa Senhora de Fátima.
"AJUDA É FUNDAMENTAL"
Leopoldina Alves é viúva e vive em São Pedro d’Este, Braga, num apartamento arrendado, com os dois filhos: o Hugo José, de oito anos, e a Ana Catarina, de 12. Pagava 180 euros de renda por mês, quase metade do que aufere, fruto do seu trabalho e da pensão por morte do marido.
Agora, depois de uma luta de mais de dois anos, foi-lhe atribuído um subsídio de renda de 130 euros. "Esta ajuda, para mim e para os meus filhos, é fundamental. Ganho 250 euros como doméstica e tenho 140 euros da pensão do meu marido. A pagar 180 euros de renda, via-me mesmo aflita", diz ao CM Leopoldina Alves.
De resto, esta ajuda da Câmara de Braga, através da Bragahabit, coincide com um "incompreensível" corte que viu ser-lhe aplicado no abono de família. "Recebia pelos dois filhos 87 euros e agora recebo 70", explica Leopoldina, realçando que os 130 euros que vai economizar na renda de casa vão "dar muito jeito".
"Eu sou sozinha, e o que ganho é pouco para as despesas obrigatórias, como alimentação, vestuário e calçado. Só a poupar muito e a fazer uma grande ginástica consigo levar uma vida digna", acrescenta Leopoldina Alves, que, para além dos gastos já mencionados, tem uma despesa em medicamentos superior a 30 euros por mês.
RESIDÊNCIAS PARTILHADAS
É um conceito inovador ao nível do apoio à habitação para pessoas da terceira idade. A Bragahabit, empresa municipal de habitação de Braga, criou as chamadas residências partilhadas. Trata-se da colocação de duas ou três pessoas numa casa, em que cada uma tem o seu quarto mas em que todas partilham a sala e a cozinha. Na maioria dos casos, há protocolo com instituições de solidariedade que fornecem as refeições e são responsáveis pela higiene e limpeza. "Foi a forma que encontrámos para dar apoio habitacional e ao mesmo tempo combatermos a solidão dos mais idosos", disse ao CM João Nogueira. E já são 44 os utentes das residências partilhadas.


