18.11.10

Ofertas de emprego recuam em Outubro, em reacção às medidas de austeridade

Por Raquel Martins, in Jornal Público

As medidas de austeridade anunciadas pelo Governo em meados de Outubro e a instabilidade financeira e política em torno da apresentação do Orçamento do Estado (OE) para 2011 parecem ter influenciado negativamente a expectativas das empresas.
Quem procura emprego encontra agora ainda menos ofertas


As ofertas de trabalho que chegaram aos centros de emprego durante o mês de Outubro sofreram uma quebra mensal de 23 por cento e pela primeira vez desde o início do ano ficaram abaixo das 10 mil.

De acordo com os dados ontem divulgados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), as ofertas captadas não foram além das 9682, o valor mais baixo desde Fevereiro e que representa uma redução de 13,3 por cento em relação ao ano passado, indiciando uma retracção dos agentes económicos face às políticas restritivas do Governo.

Confrontado com este retrocesso, o presidente do IEFP, Francisco Madelino, não esconde a apreensão quanto ao futuro. "Pode tratar-se de um fenómeno conjuntural em reacção às medidas anunciadas pelo Governo ou pode tratar-se de um primeiro sinal de retracção dos empregadores face às políticas restritivas adoptadas para o próximo ano", frisou ao PÚBLICO, acrescentando que esta variável "tem que ser acompanhada com atenção" ao longo dos próximos meses.

A redução das ofertas numa altura em que o IEFP se tinha comprometido a ser mais "agressivo" na captação de mais e melhores oportunidades de emprego para os 550.846 desempregados inscritos nos centros de emprego é preocupante e Francisco Madelino garante que já desencadeou um processo para averiguar o fenómeno internamente.

Além da redução das ofertas, também a entrada dos desempregados no mercado de trabalho teima em não descolar, apesar das medidas lançadas para incentivar o regresso à vida activa. Em Outubro, 6064 desempregados conseguiram voltar a trabalhar com a ajuda dos técnicos de emprego. Foram mais 1,4 por cento do que no ano passado, é certo, mas menos 18,5 por cento do que em Setembro.

Desde Julho, os desempregados subsidiados são obrigados a aceitar trabalhar por salários mais baixos e foi criada a obrigatoriedade de as entrevistas de emprego serem acompanhadas por técnicos do IEFP, com o objectivo de detectar as razões que levavam a que muitas das ofertas ficassem desertas. Porém, o volume das colocações efectuadas é muito semelhante ao verificado antes da entrada em vigor das novas regras.

Francisco Madelino garante, contudo, que as mudanças no regime do subsídio de desemprego estão a corresponder às expectativas. "O efeito das medidas sente-se não apenas no número de colocados, mas nas anulações por auto-emprego e por não aceitação das propostas de emprego, que dispararam", realçou.

Desemprego abranda

Ainda assim, em Outubro, as inscrições nos centros de emprego dão sinais de abrandamento.

Embora o desemprego registado continue a aumentar face ao ano passado, o ritmo é cada vez menos violento. No final de Outubro 550.846 pessoas declararam-se desempregadas, mais 6,5 por cento do que em 2009. Porém, em termos mensais verificou-se um recuo de 0,9 por cento face a Setembro, o que, segundo o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, aconteceu pela primeira vez em duas décadas.

Na análise anual do desemprego, o IEFP realça que o fenómeno subiu em ambos os géneros, em particular nas mulheres, onde o número de desempregados subiu 7,9 por cento, enquanto nos homens o valor avançou 4,7 por cento.

Mas enquanto os desempregados inscritos há menos de um ano (58,4 por cento do total de desempregados) diminuíram sete por cento, os desempregados de longa duração (41,9 por cento) registaram um acréscimo de 33,2 por cento, ainda assim inferior ao registado em Setembro.

A Madeira foi a região onde o desemprego mais cresceu no último ano (19,8 por cento), seguida do Algarve (16,7 por cento).