6.11.15

Miguel Januário no país do ±MAIS ou MENOS±

Vítor Belanciano, in Público on-line

As intervenções artísticas de Miguel Januário estimulam o pensamento crítico. Este sábado, em Lisboa, inaugura O Princípio do Fim, dele não se esperando uma exposição convencional.

Jogou golfe com pão em frente à Assembleia da República, colocou um colete de jornalista na estátua de Fernando Pessoa no Chiado em Lisboa e simulou o espetar de uma faca nas costas da estátua de D. Afonso Henriques, em Guimarães, recorrendo a uma grua. Miguel Januário, 34 anos, mais conhecido pela sigla ±MAISMENOS±, já esteve em situações tangenciais, movendo-se nos vazios entre legalidade e ilegalidade, mas nunca tinha suscitado tanta atenção das autoridades como na semana passada.

Foi na zona das Docas, em Lisboa, junto ao projecto de arte pública Portugal a Banhos, da artista Joana Vasconcelos, que se materializa numa obra moldada em fibra de vidro, com o contorno do território português, em tudo similar às piscinas pré-fabricadas que se encontram à disposição no mercado. É no passeio das Docas que a peça se encontra, na posição vertical, suportada por uma estrutura metálica. Foi ali que combinámos encontrar-nos com Miguel Januário e um assistente, que iria documentar a colocação de um pequeno estandarte, com frases do Papa Francisco inscritas num pano, junto da peça da artista, para daí resultar uma foto.

O objectivo era tirar uma foto para integrar a exposição O Princípio do Fim, que inaugura sábado (prolongando-se até 23 de Dezembro), na galeria Underdogs (Rua Fernando Palha, 56, zona Oriental de Lisboa). Mas mal Miguel Januário pegou no estandarte, com as frases “La realidade es más importante que la ideia” e “no a la nueva idolatria del dinero”, retiradas do Evangelii Gaudium do Papa Francisco, de imediato dois indivíduos, que se identificaram como sendo seguranças do porto de Lisboa, pondo-se à frente do artista, enquanto seguravam o estandarte, impedindo-o de prosseguir.

Argumentavam que não era possível tirar fotos ali sem um pedido formal prévio junto da Administração do Porto de Lisboa. O artista respondia que apenas queria tirar uma foto, sem intuitos comerciais, para integrar uma exposição, ao mesmo tempo que apontava para os turistas circundantes que apontavam câmaras sem serem molestados. Nisto surgiram mais dois administrativos do porto de Lisboa, gerando-se uma discussão sobre espaço público e privado, com um deles a garantir que a peça de Joana Vasconcelos era propriedade da Administração do Porto de Lisboa e como tal só era possível tirar fotos à peça com uma autorização expressa.