4.2.16

Emilia Kamvisi. A grega de 85 anos candidata a Nobel da Paz

Joana Capucho, in "Diário de Notícias"

Ficou conhecida depois de ter sido fotografada a alimentar um bebé sírio na ilha de Lesbos. Quando descobriu que era candidata ao Nobel só conseguiu dizer: "O que é que eu fiz? Não fiz nada"

Quando alimentou um bebé sírio no outono do ano passado, Emilia Kamvisi estava longe de imaginar que viria a ser proposta pela Grécia para Nobel da Paz. "O que é que eu fiz? Eu não fiz nada", disse a avó grega de 85 anos, quando descobriu que tinha sido nomeada para receber o galardão. Quatro meses depois de ter sido fotografada com outras duas amigas, de 89 e 85 anos, a alimentar uma criança com um biberão, Emilia está entre os três candidatos gregos ao prémio.

Quase um milhão de refugiados entraram na Europa via Grécia. Na ilha de Lesbos, onde vive, Emilia Kamvisi - filha de refugiados - viu cenas que lhe fizeram lembrar os tempos da ocupação nazi. "Vimos pessoas a chorar nos botes, pessoas a deixarem as suas casas, pessoas a dormir nas ruas", recordou à agência Reuters.

Habitantes das ilhas gregas propostos para Nobel da Paz

Emilia desvaloriza a importância do seu ato, que a Grécia considera ser o espelho do comportamento e atitude do país, quer ao nível das organizações quer dos voluntários, que ajudaram a salvar homens, mulheres e crianças que fugiam da guerra e da pobreza. Como aconteceu com a avó Kamvisi, de 85 anos, várias personalidades gregas sugeriram ao comité outros nomes importantes no acolhimento dos refugiados. É o caso de Stratis Valiamos, um pescador da ilha de Lesbos, que também foi proposto para o Nobel da Paz.

Dizem-lhe que é um herói, mas Stratis Valiamos considera que fez apenas aquilo que tinha de fazer. "Quando estás a pescar e vês um barco a afundar-se ao teu lado e as pessoas a gritar por ajuda, não podes fingir que não estás a ouvi-las", afirmou o pescador. Em outubro, salvou dezenas de refugiados durante um naufrágio. Na sequência do incidente, recordou, 240 pessoas foram salvas de "um mar de cadáveres". "Ninguém quer deixar as suas casas, para pegar numa mala e em cinco bebés e caminhar durante cinco meses e entrar num barco de plástico", acrescentou.

Entre os nomes propostos pela Grécia está também o da atriz norte-americana Susan Sa-randon, de 69 anos, que passou o Natal e o final de ano em Lesbos, para ajudar e conhecer as histórias dos refugiados sírios que fugiram da guerra. Entretanto, circulou na internet uma petição para dar o Nobel da Paz aos moradores da ilha grega, que se esforçaram para ajudar os refugiados. No final do dia de ontem, o documento reunia já mais de 600 mil assinaturas.

O Instituto Nobel Norueguês não divulga os nomes dos nomeados para o prémio, mas quem faz as sugestões pode divulgá-los. Entre os candidatos para a edição deste ano, avança a Reuters, está também o ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden e os negociadores do processo de paz da Colômbia.