Leonor Paiva Watson, in Jornal de Notícias
Dezasseis milhões de desempregados na Europa dos 27. Meio milhão em Portugal. Este é o problema e o desafio a discutir amanhã e depois, em Lisboa, na conferência "Emprego na Europa", realizada no âmbito da Presidência Portuguesa na União Europeia. O evento chega uma semana depois dos dados mais recentes da Eurostat darem conta de que Portugal é um dos países da Europa com mais desemprego, com uma taxa de 8,3%; sendo o cancro o desemprego de longa duração, que atinge já 52,1% do total de desempregados.
Segundo a Eurostat, não apenas ocupamos um lugar cimeiro no ranking do desemprego, como este continua a crescer, ao contrário de países como a França (8,6%) ou a Grécia (8,4%) onde o problema começa a diminuir. Por outro lado, pela primeira vez em muitos anos, Portugal ultrapassou a vizinha Espanha (8%) nesta matéria.
O problema é agravado pelo facto de metade dos desempregados o ser há mais de um ano. Para o contornar, o Governo propôs algumas medidas, sendo uma delas isentar da taxa social única as empresas que contratem pessoas nessa situação ou com mais de 55 anos [ler página ao lado, entrevista como o ministro do Trabalho e Solidariedade Social Vieira da Silva].
Um pacote de medidas urgente, se se tiver em conta que o desemprego delonga duração tem vindo a aumentar. Em 2002 tinha um peso de 37,3% do universo de desempregados, em 2006 ultrapassava os 50%. Para o economista e professor universitário João Loureiro, a situação dramática terá na origem uma alteração da nossa estrutura económica. "Se antes a nossa economia assentava em indústrias de mão-de-obra intensiva, hoje tende a convergir para actividades tecnologicamente mais avançadas", diz, acrescentando que "nesta fase de transição há uma geração que é apanhada desprevenida - a das pessoas com mais de 50 anos [que ocupam uma larga percentagem das que se encontram no desemprego de lomga duração]".
Na base desta situação poderá estar, portanto, "a falta de qualificações e habilitações literárias para este novo contexto", que não será apenas uma questão relativa às pessoas mais velhas. "Há sempre mão-de-obra mais barata nalguma parte do Mundo. Se formos comprar roupa, verificamos que esta é mais barata agora do que há uns anos, porque é quase toda confeccionada na Ásia, onde a mão-de-obra é muito mais barata", exemplifica.
É neste contexto que muitas das empresas fecharam as suas portas em Portugal, deixando milhares de trabalhadores sem emprego.
Fundo de globalização
Só nos últimos meses, para cima de duas mil pessoas perderam o seu posto de trabalho no sector automóvel. Este exemplo foi a razão pela qual Portugal vai candidatar-se, numa iniciativa inédita, ao Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização, visado para apoiar trabalhadores desempregados devido à concorrência de países como a China ou a Índia [ler texto da página 6].
Tudo isto será, contudo, circunstancial. Para João Loureiro, "só quando tivermos um nível de Educação mais elevado" será possível minimizar parte do problema e ter as pessoas, por exemplo e tal qual pretende o Governo a trabalhar mais tempo.