3.10.07

Portugal é terceiro país com mais desemprego

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Dos países da Zona Euro, Portugal tinha a terceira maior taxa de desemprego, em Agosto. Aos 8,3% reportados pelo Eurostat, a França respondeu com 8,6%, enquanto que a Grécia registou 8,4%, mas relativos a Junho. Estes dois países (tal como a média da União Europeia) têm, contudo, uma particularidade lá, o número de pessoas sem trabalho está a diminuir, enquanto que em Portugal continua a aumentar. A taxa nacional está quase um ponto percentual acima do valor de Agosto de 2006 e, pela primeira vez em décadas, ultrapassou Espanha, indicam os dados do organismo estatístico europeu ontem divulgados e "limpos" da sazonalidade de Verão, quando o turismo costuma baixar o desemprego em Portugal.

É certo que em dois outros países da União Europeia - o Luxemburgo e a Irlanda - a falta de trabalho também aumentou, face a Agosto do ano passado, mas as suas taxas ainda assim são tão baixas que quase podem ser consideradas pleno emprego (de 5% e 4,7%, respectivamente). Nos restantes países, o desemprego baixou face ao homólogo.

Descontadas as subidas e descidas, Portugal está no quinto lugar dos "mais desempregados" de toda a União. Além da França (e, presume-se, da Grécia), só a Polónia e Eslováquia apresentam uma taxa mais alta, reflexo do atraso com que aderiram à União e ainda das dificuldades sentidas na reconversão da economia.

A mesma música repetida

A expressão "problemas na reconversão do tecido económico" ressoa nos ouvidos portugueses. Nem Luís Bento, professor da Católica, nem Pires de Lima, docente no ISCTE, ficaram surpresos com os dados do Eurostat e explicaram ao JN as razões pelas quais o desemprego está alto e, dizem, continuará a subir.

Um primeiro factor é a nova lógica da economia mundial, explicou Luís Bento, professor da Católica. "Até há quatro anos, um crescimento da riqueza de 1,5% implicava 150 mil novos empregos, mas já não é assim", disse. A economia dos EUA cresce ao mesmo tempo que o desemprego sobe, e Portugal segue os passos cresceu 1,6% no segundo trimestre, sem que o desemprego tenha baixado, explicou. A justificação é o facto de as empresas estarem a investir em produtividade em vez de aumentar a produção. Ou seja, em vez que contratarem mais gente para fazer mais do mesmo, aproveitam melhor os recursos. E estão até a "dispensar os trabalhadores que tenham a mais", fruto do aumento da eficiência e da melhor utilização de tecnologias de informação, disse.

O ministro do Trabalho, Vieira da Silva, não concordará com esta leitura, já que garantiu, citado pela TSF, que o desemprego "está estabilizado" e que em 2008 se poderá "inverter a situação" em virtude "do crescimento da economia e da eficácia das políticas activas de emprego".

Quer a expectativa de Vieira da Silva se concretize, quer não, o certo é que as deslocalizações de empresas (as fábricas todas ou só partes) para países com mão-de-obra mais barata como a China ou a Índia devem continuar, dizem os dois especialistas, e Luís Bento espera mesmo ouvir notícias até ao fim do ano.

Já para as empresas que querem contratar, disse Pires de Lima, "é cada vez mais difícil encontrar trabalhadores qualificados", fruto do desinvestimento da última década no ensino profissional e tecnológico. E caso o actual reforço do número destes cursos nos liceus continue, acrescentou Luís Bento, só dentro de outra década é que terá impacto real no desemprego.

Esta dinâmica está patente nos dados do desemprego jovem. A taxa é de 17,5%, uma das mais altas da Europa.

Norte em primeiro lugar

O Eurostat não divide os dados de desemprego pelas várias centenas de regiões europeias, mas o Instituto Nacional de Estatística indica que, na primeira metade deste ano, era no Norte que se encontrava a maior taxa do país 9,4%. Lisboa está em segundo lugar, com 9%, enquanto que os Açores apresentam a menor taxa de desemprego de Portugal, de apenas 3,9%. No primeiro semestre do ano, a média de todo o país era de 7,9%.

Eurostat diferente de IEFP

O Eurostat e o INE, dois organismos estatísticos, usam métodos diferentes do adoptado pelo Instituto de Emprego para apurar o desemprego. O IEFP recolhe informação sobre o número de pessoas que efectivamente se registam nos centros de emprego, enquanto que o Eurostat recorre a métodos estatísticos trimestrais, extrapolando-os depois para uma base mensal. Não contam um a um os de-sempregados, mas antes fazem estimativas matemáticas.