in Jornal de Notícias
Todos os anos, na época de Natal, o Hospital Curry Cabral regista 15 a 20 casos de idosos que se mantêm internados depois de terem alta porque ninguém os vai buscar. A situação repete-se um pouco por todo o país.
Este ano ainda não foi identificado qualquer caso naquela unidade de saúde lisboeta, mas os que lá trabalham estão apenas à espera do dia em que tudo começa a mudar. "Na época que se aproxima, junto da quadra natalícia, chegamos a ter 15 a 20 casos sociais, normalmente surge um ou dois casos por dia", disse à Lusa o presidente do Conselho de Administração, Manuel Delgado.
No Algarve, o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio, Luis Batalau, confirma o cenário e acrescenta que "passadas as festas, a maioria vem buscar o idoso".
No Hospital de S.João, no Porto, a assessora de imprensa fala em famílias que "protelam a alta dos idosos dois ou três dias", apontando também a época de natal como "a pior altura".
A responsável pelo serviço social do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Ana Maria Almeida, explica o porquê deste adiamento: "As pessoas decidem sair da cidade e programam a suas vidas a contar que o familiar vai ficar hospitalizado, esquecendo que a permanência no hospital é temporária".
Quando contactados pelos serviços, informando que o familiar já teve alta, muitos "chegam mesmo a desligar o telemóvel e até a dar moradas falsas para não serem incomodados", recordou Manuel Delgado.
"As famílias nunca assumem que não os vão buscar. Quando entramos em contacto dizem que não podem ir nesse dia e depois não atendem os telefones", explicou.
"Há filhos que não querem levar os pais para casa no dia em que têm alta, apesar de alertarmos para o perigo das infecções hospitalares que são reais e graves", lamentou Ana Maria Almeida.
E esta não é uma realidade exclusiva das classes desfavorecidas. "Na classe média também acontece, ou seja, não é só por falta de recursos financeiros que as pessoas se recusam a ficar com o familiar idoso. São pessoas mais egoístas, menos solidárias", sublinhou Manuel Delgado, do Curry Cabral.