Abel Coentrão, in Jornal Público
Presidente da Comissão de Coordenação da Região Norte diz que Lisboa está a perder o papel de região motora da economia nacional
Não é o regresso da velha rivalidade Norte-Sul. Até porque, neste caso, o mal de uns é o mal de todos, como notou o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDR-N). Mas, ao olhar para as contas regionais divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), com os dados definitivos de 2006 e os preliminares de 2007, Carlos Lage considera que, com um PIB abaixo da média nacional em dois anos consecutivos, Lisboa "não está a desempenhar o seu papel de região motora do crescimento do país", tendo sido o Norte que, em 2007, dinamizou o crescimento económico português.
Já se sabia que o Norte tinha crescido acima da média nacional no ano passado. O que os dados preliminares do INE dizem é que, pela primeira vez numa década, a diferença do aumento do PIB chega ao meio ponto percentual (2,5 por cento na região contra 1,9 no país), como notou Eduardo Pereira, encarregue na CCDR-N da interpretação das estatísticas que, sendo positivas, chegam já no final de 2008, um ano que pode bem ter estragado algumas das conquistas conseguidas pela região em 2007.
Os (poucos) dados disponíveis para este ano são suficientes para justificar o alerta. A região registou um crescimento negativo das exportações para a União Europeia nos dois primeiros trimestres (com os dados nacionais, não desagregados, a dizer que a quebra se prolongou até ao final do Verão), e o desemprego regional subiu ligeiramente entre Janeiro e Setembro, voltando aos níveis de 2007. E com a deterioração da situação económica mundial é expectável que uma economia aberta como a do Norte do país, com a sua forte vocação exportadora, ainda venha a sofrer mais o embate da crise numa zona que, na recessão de 2003, começou a ter problemas mais cedo e só conseguiu sair deles mais tarde do que o próprio país no seu conjunto.
A CCDRN tem plena consciência dos riscos - "os nossos objectivos imediatos têm de passar por apoios no campo social" - notou Carlos Lage. Mas a mesma CCDRN prefere olhar para as séries estatísticas dos últimos anos e descobrir nelas algumas boas notícias para uma região que tem sido retratada como pouco dinâmica. E as boas notícias são, no emprego, a melhoria da qualificação da população empregada na região - que, além disso, ainda tem metade dos 600 mil inscritos nos cursos do programa Novas Oportunidades.
A comissão destaca ainda a intensificação tecnológica da indústria, com reflexos na produtividade e no peso desta no crescimento regional (ver texto ao lado). Uma evolução que, contudo, arrasta muita gente para o desemprego. "Temos tido no Norte insuficiente criação líquida de emprego", afirmou Eduardo Pereira, "e a região chegou a 2007 com o maior nível de desemprego do país, que afecta sobretudo as mulheres e os jovens".