Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias
Em 2007, o Norte cresceu acima do resto do país, mas continua longe da média e mais ainda de Lisboa
A Região Norte foi a segunda que mais cresceu, a seguir ao Algarve, no ano passado. Os 2,4% de aumento da riqueza ajudam-na a aproximar-se do resto do país, mas continua a ser, de longe, a região mais pobre de Portugal.
É certo que Lisboa e a Madeira tiveram crescimentos mais modestos do que os registados a Norte e que a diferença é ainda maior se se tiverem em conta os dois últimos anos, em que o desempenho da capital foi fraco, em comparação. Mas, ainda assim, os dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE) dizem que o Norte só produz 80% da média do resto do país, bem abaixo dos 139% de Lisboa.
A capital continua, assim, a ser a única região com mais riqueza por habitante do que a média da União Europeia (a Madeira está quase e o Norte manteve-se nos 60%). Mas Portugal no seu todo ainda a tentar recuperar da crise de 2003: os 76% notados pelo INE no ano passado continuam abaixo do valor do início da década.
A diferença de riqueza reflecte-se nos rendimentos dos trabalhadores e os dados comprovam que as remunerações a Norte são as mais baixas. No ano passado, dividindo o total das remunerações pagas em cada região pelo seu número estimado de habitantes, a Norte cada pessoa (e não cada trabalhador) ganhou 6155 euros, se contarmos com os subsídios de férias e Natal. Foi o valor mais baixo, seguido do Alentejo, Centro, Açores, Algarve, Madeira e, finalmente, Lisboa.
Os dados do INE só confirmam a noção de que a disparidade nacional, embora um pouco menor, continua a ser grande. E no que toca à região Norte, a ligeira melhoria de 2007 está longe de compensar a forte queda da última década, lembrou Luís Ramos, investigador na área de desenvolvimento regional na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Além disso, salienta que, fruto de muitos investimentos públicos, Litoral e Interior já não são sinónimo de riqueza ou pobreza. Basta ver que o Tâmega era a região mais pobre do país. Quanto ao Grande Porto, está longe de ser a segunda zona mais rica, sendo até ultrapassada pelo litoral alentejano, ajudado por projectos como o porto de Sines.
E tudo indica que a situação vai piorar, antes de ficar melhor. No Porto, "o grande problema continua a ser o que fazer com tanta mão-de-obra com [baixo] nível de qualificações", disse. O programa de obras públicas que se avizinha poderá dar trabalho a muita gente e ajudar a baixar o desemprego, mas não será qualificado. É que boa parte do emprego qualificado desapareceu do Porto quando a banca e seguros se mudaram para Lisboa, no final dos anos 90, acredita o investigador. Nessa altura, o Norte perdeu uma âncora de serviços qualificados que, entende, ainda não recuperou.