29.12.08

Divorciados são os novos beneficiários do refeitório social

Alexandra Lopes, in Jornal de Notícias

Homens divorciados - que não conseguem suportar todos os encargos - é o novo grupo que, recentemente, começou a recorrer ao refeitório social do Grupo de Acção Social Cristã de Barcelos.

Todos os dias, sem excepção, aqueles que mais precisam acorrem ao refeitório social para tomarem as suas refeições. Sem esta ajuda muitos não comeriam qualquer refeição durante o dia. Funciona de segunda-feira a domingo e, até na véspera do dia de Natal o jantar foi servido.

O refeitório social é procurado usualmente, por toxicodependentes, ex-toxicodependentes sem retaguarda familiar, alcoólicos e, há cerca de dois anos, começaram a aparecer divorciados. "Este foi o grupo que nos tem surgido mais nos últimos dois anos", aponta Célia Barbosa, coordenadora do refeitório social, indicando que as mulheres que ali vão são "poucas".

"Cometi erros que não devia e a minha mulher quis divorciar-se de mim", conta um utente divorciado, com 61 anos. Prefere não se identificar. Confessa que os 260 euros que recebe de reforma não chegam para todas as suas despesas. O mesmo acontece com Fernando, que está desempregado e quando se divorciou "a mulher ficou com tudo". Vive em casa de um amigo. "Qualquer dia tenho de pedir pelas portas", lamenta.

"Vivo sozinho por isso venho jantar aqui", atira António Fernandes, utente assíduo do refeitório. Toxicodependente em recuperação António não trabalha. Com 49 anos já foi pasteleiro mas desde 1998 deixou de ter emprego. "Caiu" na toxicodependência e, segundo diz tenta agora "recompor" a vida. António dá a cara. Não tem medo de se identificar mas o mesmo não acontece com a maioria. Preferem contar a sua história no anonimato a deixar que alguém a conheça.

Ao almoço, a afluência começa por volta das 12 horas. Chegam normalmente, um a um. Pegam no tabuleiro e, quase sempre sem muita conversa, comem e saem. Mas, técnicos e funcionários conhecem a história de cada um até porque há uma articulação com os serviços de saúde e de apoio conforme as necessidades. O banho pode também, ser tomado ali. Quem desejar pode, também, lavar a própria roupa na instituição.

À medida que vão chegando para almoço percebe-se que a presença de estranhos leva os mais desconfiados a voltar para trás. A reportagem do JN teve oportunidade de assistir a alguns utentes que ao avistar que ali estávamos faziam um compasso de espera tentando perceber de quem se tratava.

A afluência varia, mas Célia Barbosa, coordenadora do refeitório social, diz que normalmente, têm "40 a 50" utentes. "Muitas vezes esta é a última resposta para quem nos procura", afirma.

Assíduo, Jorge atira desde logo que recorre ao refeitório "porque precisa". Enquanto come um bolo de sobremesa, confessa receber cerca de 180 euros do rendimento de inserção social, alegando que não trabalha. É alcoólico. Embora não o diga.