Sérgio Aníbal, in Jornal Público
De crescimentos em torno de 10 por cento a China pode passar em 2009 para metade. Se se confirmar, uma recessão global torna-se praticamente certa
Os sinais de forte abrandamento da economia chinesa continuam a fazer-se sentir e o Fundo Monetário Internacional está já a prever um crescimento próximo de cinco por cento em 2009, um resultado que, de acordo com o próprio Governo de Pequim, pode levar a um aumento da instabilidade social no país.
Ao contrário do que inicialmente se chegou a pensar, a China, que durante a última década assistiu a uma explosão da sua economia, não está a conseguir escapar aos efeitos negativos da crise internacional. Ontem, ficou a saber-se que a produção industrial registou em Novembro um crescimento de 5,4 por cento. É o valor mais baixo desde pelo menos 1999 e fica muito abaixo das expectativas dos analistas. Em Outubro, a variação tinha sido de 8,2 por cento.
A quebra na actividade do sector industrial está directamente relacionada com o cenário sombrio que se vive no sector exportador. A procura proveniente dos importantes clientes europeus e norte-americanos está a baixar, ao ponto de as exportações chinesas terem caído em termos homólogos durante o mês passado.
Perante estes indicadores, as revisões nas previsões de crescimento para o próximo ano sucedem-se. "Começámos com um crescimento de 11 por cento para a China, depois foi oito por cento, depois sete, e agora a China irá provavelmente crescer cinco ou seis por cento [em 2009]", afirmou ontem Dominique Strauss-Kahn, director-geral do FMI.
Este tipo de números seria excelente para qualquer economia do mundo desenvolvido, mas para a China, que nos últimos anos, cresceu sempre a taxas superiores a dez por cento e este ano ainda deverá conseguir um valor de 9,7 por cento, é uma fonte de grandes preocupações.
As próprias autoridades chinesas admitem que o país e, em particular, o mercado de trabalho pode não estar preparado para enfrentar um abrandamento na economia tão acentuado. Liu Mingkang, presidente da autoridade de regulação bancária, assumiu recentemente que "se o crescimento do PIB baixar para seis ou sete por cento, irá afectar o emprego e também a estabilidade social". A principal preocupação de Pequim está na incapacidade da economia para absorver, nos centros urbanos, toda a mão-de-obra que continua a migrar das áreas rurais. Por isso, as autoridades estão a aumentar o investimento e a baixar taxas de juro.
Para o resto do Mundo, o abrandamento da China pode ser a confirmação final de que teremos uma recessão mundial (habitualmente declarada quando o crescimento do Globo é inferior a três por cento. Strauss-Kahn, ontem, disse que "a possibilidade de uma recessão global é real". Pediu medidas de estímulo económico equivalentes a dois por cento do PIB mundial e avisou que "se não se fizer isso, a instabilidade social pode ocorrer em muitos locais", incluindo as economias avançadas.