17.12.08

Encontro distrital sobre inserção

Vera Gomes, in O Setubalense

Técnicos da Segurança Social partilham experiências

Teve início ontem e continua durante o dia de hoje, o encontro distrital “Inserção: um percurso de decisão”, onde os profissionais dos Núcleos Locais de Inserção (NLI) do Distrito de Setúbal partilham experiências e boas práticas de “empowerment”, ou seja, de autonomização dos beneficiários do RSI – Rendimento Social de Inserção.


O encontro, que se iniciou ontem, no auditório da ESCE e que se prolonga hoje, pretende contribuir para um maior conhecimento e valorização das práticas e produtos dos treze NLI’s do distrito, decorrentes da acção de formação realizada no 1º semestre sobre “empowerment”, que proporcionam condições de incentivo e capacitação para o desenvolvimento pessoal, para a autonomia, autoconfiança e capacidade de iniciativa dos beneficiários.

Trata-se de uma iniciativa do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, em parceria com o Núcleo Distrital de Setúbal da REAPN – Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal, em que se aspira “avaliar os impactos da nova geração de protocolos de RSI”, revelou Daniel Sanchez, em substituição da directora do CDSS de Setúbal, Fátima Lopes. O adjunto esclarece que o novo modelo “aposta na autonomia das pessoas, retomando a filosofia base do RSI como um real instrumento para exercer o combate à pobreza e lutar pela igualdade de oportunidades”.

O presidente da REAPN, Padre Jardim Moreira explicou que a Rede “é um serviço prestado na linha da justiça e da democracia a cada ser humano e tem como princípios aqueles que decorrem da dignidade humana, como o direito a participar na constituição da sociedade e do seu próprio futuro, enquanto indivíduo”.

“Os técnicos devem facilitar o trabalho aos pobres e excluídos mas não dirigir as suas vidas”, alerta o Padre, acrescentando que “devem acompanhar o beneficiário, no sentido da autonomização”. O presidente do REAPN evidenciou a necessidade de fazer uma mudança global. “Somos convidados a construir uma nova sociedade baseada na justiça”, indicou o humanitário. Em género de conclusão, Jardim Moreira manifestou que “a erradicação da pobreza exige o empenho de toda a sociedade civil!”

A especialista em política social, Maria João Vargas da Associação para o Estudo e Integração Psicossocial (AEIPS), centrou a sua apresentação no conceito de “empowerment” que se caracteriza como um processo através do qual os indivíduos, os grupos, organizações ou comunidades podem conduzir as próprias vidas numa perspectiva de mudança dos contextos sociais e políticos onde se encontram, no sentido de melhorar a equidade e a qualidade de vida.

Para esta especialista, a mudança social “tem que ser ancorada nas comunidades, com base nas pessoas”, porque “não é suficiente encher os locais com estruturas como postos de saúde ou escolas. É preciso saber o que as pessoas querem e o que sonham para o seu futuro!”, explica.

Os desafios dos profissionais passam por “influenciar alguém que escolha ser influenciado por nós”, indica Maria João. No entanto, as pessoas podem sentir-se bem tal qual estão e podem aceitar ou não as oportunidades que lhes são oferecidas. “Nós abrimos as portas, mas eles podem escolher se querem entrar ou não!”, refere a profissional.

Também se deve ter atenção a oferta de oportunidades “para as quais se detenham, efectivamente, respostas!”, alerta. Por exemplo, enviar o beneficiário para o centro de emprego, sem saber se há uma oportunidade real de emprego para aquela pessoa não é arranjar uma oportunidade. “O encaminhamento por si só não resolve nada!”, indica.

De acordo com a representante da AEIPS, para promover o “empowerment” é preciso “atender à Excelência/ talento inerente a cada pessoa”, ou seja, não as ver só como vítimas, mas também aprender com elas e dar-lhes uma perspectiva acerca do seu talento individual. “Elogiar o que se alcançou e fortalecer a partir do que é bom; ser entusiasta do processo de ‘empowerment’ e confrontar a pessoa com as suas escolhas”, conclui Maria João Vargas.