14.12.08

Programa aposta na prevenção da exclusão social

Luís Garcia, in Jornal de Notícias

Projecto "Juntos construímos mais" já envolveu 800 crianças que receberam formação de cidadania


As rixas do Verão passado quase deitaram a perder os projectos de inclusão social na Quinta da Fonte, em Loures. Cinco meses depois, tudo voltou à normalidade: as ruas estão mais calmas mas continua muito trabalho por fazer.

Os tiroteios em plena via pública que chocaram o país, em Julho, fizeram com que se questionasse a política social seguida na Quinta da Fonte e, de um modo geral, nos bairros sociais. O ambiente de suspeição quase destruiu alguns anos de trabalho das associações na urbanização.

"Se o nosso trabalho não fosse bem cimentado, poderia ter sido posto em causa nessa altura", explica António Embaló, coordenador do Juntos Construímos Mais, um projecto iniciado há dois anos e inserido no Programa Escolhas. Aqueles acontecimentos não são a "realidade do bairro", garante o responsável. "De vez em quando há questões sérias, mas não naquele nível", assegura.

O projecto Juntos Construímos Mais procura prevenir a ocorrência de fenómenos de exclusão social e de abandono escolar e já envolveu mais de 800 crianças e jovens, que, mais tarde, em muitos casos, vêm eles próprios a integrar os grupos que dinamizam as actividades.

Uma das grandes apostas do programa é fazer com que os alunos se identifiquem mais com o ambiente escolar. Para isso, os responsáveis disponibilizam aos professores, técnicos e auxiliares da Escola Básica Integrada da Apelação formação em áreas como gestão emocional e mediação de conflitos.

"Se um aluno chega à escola e não faz absolutamente nada ou se começa num pranto sem se perceber porquê, o que é o que o professor faz? É este tipo de coisas que eles aprendem na formação", explica António Embaló

Os alunos recebem formação de cidadania, apoiada em jogos didácticos que fogem ao conceito de aula tradicional e são incentivados a expressarem-se da forma que mais gostarem. Alguns gostam de gravar hip-hop no estúdio do bairro, outros preferem aprender a fazer cinema de animação ou produções fotográficas. Há ainda cinco grupos de dança, actividades desportivas e aulas de informática.

Ontem, o Juntos Construímos Mais iniciou o primeiro de quatro dias de portas abertas à comunidade, com várias actividades. No torneio de futsal, que decorreu no pavilhão da EBI da Apelação, os mais novos, com respeito profundo pelas regras, deram uma lição de cidadania e camaradagem aos adultos.

No meio de muitas brincadeiras em comum, os pequenos João Rosa, Rui Miguel e João Paulo, entre os nove e dez anos de idade, explicaram ao JN que não conseguem perceber os episódios violentos de Julho, que chegaram a ser descritos como um confronto étnico. Se um deles é cigano, o outro branco, o terceiro é negro e são os melhores amigos, porque será que as pessoas não percebem que "muda a cor da pele mas por dentro somos todos iguais"?