28.5.09

Constâncio duvida de retoma já este ano e prevê período longo de crescimento lento

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Na Europa e nos EUA, a situação dos bancos ainda está por resolver e os efeitos da recessão podem aumentar ainda mais os problemas


Vítor Constâncio está pouco confiante no início de uma retoma da económica mundial e portuguesa já no final deste ano, antecipando a ocorrência de um período de muitos anos em que as taxas de crescimento serão mais baixas.

Em resposta aos deputados da comissão parlamentar do Orçamento e Finanças, o Governador do Banco de Portugal mostrou-se pouco impressionado com a recente evolução positiva nos mercados financeiros internacionais, afirmando estar "um bocadinho mais pessimista do que poderia resultar dos indicadores esperançosos que têm vindo a sair".

Assim, Constâncio defende que "é cedo para se dizer com segurança que se irá iniciar uma recuperação da economia no segundo semestre deste ano", uma projecção consideravelmente mais prudente do que as realizadas, por exemplo, pelo ministro das Finanças, que está a apostar no início de uma viragem da economia ainda em 2009.
Para Constâncio, os problemas que a economia mundial terá em arrancar estão essencialmente relacionados com a situação dos bancos que "ainda não está resolvida". "Infelizmente, o desemprego é uma variável retardada e, por isso, a recessão ainda vai aumentar os níveis de incumprimento no crédito", diz. Apesar de assinalar que "os custos com imparidades dos bancos portugueses estão a subir muito", o Governador diz que os problemas de recapitalização das instituições financeiras, que se deverão continuar a fazer sentir, são um fenómeno mais forte no resto da Europa e nos EUA do que em Portugal.

Em relação à evolução das economias europeias e norte-americana nos próximos dez anos, Constâncio também não está nada optimista. "Vamos entrar numa fase em que as trajectórias de crescimento vão ser mais baixas durante muitos anos", disse, lembrando que, por isso, muitos países terão problemas de sustentabilidade das finanças públicas.

Política anti-crise

No que diz respeito exclusivamente a Portugal, Vítor Constâncio, na sua intervenção inicial, defendeu que "não é por qualquer restrição de crédito que a economia portuguesa está em recessão".

O crescimento do crédito, afirma, poderá ficar "entre quatro e cinco por cento" este ano, muito acima da variação nominal do PIB.

Questionado pelos deputados sobre o efeito do programa anti-crise posto em prática pelo Governo, Vítor Constâncio reconheceu não ter sido feito pelo Banco de Portugal qualquer cálculo sobre o seu impacto na economia, afirmando que "será quase impossível vir a fazê-lo". "na minha avaliação são medidas positivas, é melhor que existam", afirmou.

Em relação à moratória no crédito à habitação lançada pelo Governo, no entanto, Constâncio considerou que o impacto na economia será muito reduzido, embora possa ajudar em alguns casos muito específicos.

O Governador do BdP declarou-se, ainda, contrário à redução do IRC sobre as empresas, como foi feito em Espanha, e apoiou a possibilidade de criação de um imposto europeu, através do IRS.