Pedro Vila-Chã, in Jornal de Notícias
Seis pessoas tiveram de abandonar residência vizinha do prédio que ruiu na rua D. Pedro V
Três dias após a derrocada de um prédio na rua D. Pedro V, em Braga, os seis elementos de uma família que vivia no prédio vizinho estavam alojados em casas de familiares. Ao final do dia foi-lhes disponibilizado um T4.
José Veloso lamentava que, aos 88 anos, tenha de viver da caridade de uma filha. Até segunda-feira e desde há 37 anos, vivia no número 138 da rua D. Pedro V, mas a derrocada no prédio ao lado (o número 136) levou a Protecção Civil a aconselhar a evacuação, tendo a Polícia Municipal (PM) selado os prédios dos dois lados daquele onde se registou o aluimento. Ontem, a família Veloso reivindicava realojamento que chegou ao final da tarde, num apartamento cedido pelo proprietário da obra onde se registou o acidente.
"O departamento municipal de obras deu indicações ao vereador, através de um relatório, para que a família voltasse à casa, mas alertava para o perigo decorrente da instabilidade que resultaria em caso de ocorrência de chuva. Por isso, optou-se por uma solução segura e a família ficará alojada num apartamento T4, propriedade do dono da obra", disse o presidente da Junta de São Victor, Firmino Marques que operou em estreita proximidade com o vereador Carlos Malainho. A família vai agora analisar a proposta.
Ao início da tarde, os elementos da família Veloso queixavam-se da falta de solução que levou a repartir os seis elementos que formam o agregado pelas casas de familiares. "Sem ofensa, parecemos os ciganos. Foi cada um para seu lado. Eu estou a morar na casa da namorada do meu filho e o meu pai foi para casa da minha irmã. Era eu que o acompanhava todos os dias, na medicação e na alimentação que ele está acamado", lembrava Maria Fernanda Veloso Pinto.
Dentro de casa ficou tudo. Roupa têm só a que traziam no corpo e agora alguma emprestada de familiares. Livros da escola, remédios, computador, ligação à internet ("nem consigo aturar os miúdos"), ficou tudo na casa onde vive há 37 anos.
Alexandre Veloso mostrava-se mais revoltado, principalmente com as explicações oficiais (ou a falta delas). "Não houve uma pessoa que se dignasse saber se temos condições para ficarmos alojados até estar garantida a segurança", dizia, entre sinais de inconformismo e incompreensão ante a postura dos responsáveis municipais. "O normal nestas circunstâncias - e tenho visto em outras cidades - é disponibilizarem um apartamento ou quartos para as pessoas ficarem". O vereador responsável pelo pelouro da Protecção Civil garante ter disponibilizado ajuda (ver caixa), situação que veio a repetir-se ao final do dia.
À cabeça das prioridades da família está o patriarca octogenário. Carece de cuidados especiais, devido à doença que o atirou para a cama e, agora, enquanto fora de sua casa, para uma cadeira de rodas. "Eu estava sempre em casa e bastava ele tocar o sino que eu ia logo em seu auxílio. Agora estamos cada qual em sua casa e já não lhe posso dar a assistência devida", resume Maria Fernanda.