20.5.09

Rede Europeia Anti-Pobreza diz que combate à pobreza infantil é prioritário

in Jornal Público

A Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN) considerou hoje prioritária a definição em Portugal de uma política de infância que combata efectivamente a pobreza infantil, um risco a que em 2007 estavam expostas uma em cada cinco crianças e jovens portugueses.

Os valores estatísticos da pobreza infantil em Portugal não são novos, mas em vésperas das comemorações do Dia Mundial da Criança, a 01 de Junho, a organização considera importante relembrar. Em muitos países da União Europeia (UE) as crianças enfrentam um risco de pobreza mais elevado do que o resto da população, sendo este o caso de Portugal.

Os dados mais recentes recolhidos pelo Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (EU-SILC), realizado em 2007 junto das famílias, indica que 18 por cento dos indivíduos residentes em Portugal se encontravam em risco de pobreza. Segundo estes dados, a taxa de risco de pobreza dos indivíduos dos 0 aos 17 anos era de 21 por cento em Portugal.

Portugal é um dos oito países onde se registam níveis mais elevados de pobreza nas crianças, segundo um relatório da Comissão Europeia de 2008, que referia também que o risco abrange tanto crianças que vivem com adultos desempregados como as que vivem em lares onde não há desemprego.

A pobreza infantil persiste, assim, como um problema grave das sociedades modernas, realça em comunicado a REAPN, que considera prioritária a definição em Portugal de uma política de infância que combata efectivamente a pobreza infantil. "Este panorama deixa-nos perante um sentimento de perplexidade, porque face a tantas conquistas efectuadas ao longo dos séculos nos vários domínios da vida social, económica, cultural, científica e tecnológica, continuamos muito atrasados relativamente a conquistas em favor do bem-estar das crianças", refere a REAPN.

Para aprofundar o conhecimento sobre este tema e produzir uma tomada de posição pública, a REAPN criou um grupo de trabalho que está a elaborar um documento com propostas para combater a pobreza infantil. Manuel Sarmento, professor titular do Instituto de Estudos da Criança (IEC), da Universidade do Minho, e um dos especialistas do grupo de trabalho, explicou à Agência Lusa que há que reflectir de que forma a sociedade se pode organizar para combater este problema que em Portugal registou até "um agravamento". "Tem-se verificado um agravamento, em vez de uma diminuição da pobreza infantil, o que significa que é necessário ter atenção à especificidade do combate deste problema", realçou.

O aumento das desigualdades sociais e a crise económica são alguns dos factores que terão levado a este aumento, adiantou.

O grupo de trabalho pretende apresentar até final de Junho um documento sobre esta temática, concentrando uma análise transversal do problema da pobreza infantil, revisitando o conceito, analisando e comparando dados em termos europeus e identificando um conjunto de recomendações e propostas de acção consideradas prioritárias para debelar o problema da pobreza infantil, explicou.

O documento irá reflectir a opinião de um conjunto de entidades públicas e privadas que trabalham com esta problemática e também de várias personalidades da área científica.