por Lumena Raposo, in Diário de Notícias
Escolheu Daca [capital do Bangladesh] para desenvolver uma acção humanitária. Porquê Daca? Porque não Lisboa, Portugal?
Em Portugal existe pobreza, mas nada que se compare com o que se passa no Bangladesh, onde 80% das pessoas vive abaixo do limiar da pobreza, ou em Daca; ali é a miséria mais absoluta, não há comparação possível. E, aliás, não fui eu que escolhi Daca, mas Daca que me escolheu.
Como aconteceu?
Não conhecia a cidade nem o país. Sou assistente de bordo [da companhia aérea dos emirados] e no dia em que fiz o primeiro voo para Daca e tive de lá ficar de um dia para o outro perguntei ao porteiro do hotel o que havia para ver na cidade. Pensava em monumentos ou locais típicos; ele respondeu-me que só havia orfanatos, hospitais e bairros de lata.
E foi?
Fui. Pensei que era uma experiência. Fui visitar o orfanato mais próximo do aeroporto; pertencia à ordem da madre Teresa de Calcutá e as freiras desafiaram-me a ir visitar no hospital uma menina de 16 anos que tinha tido dois gémeos e estava muito doente. Fiquei profundamente chocada com o que vi: pessoas deitadas literalmente no chão dos corredores e a não receberem tratamento condigno, um cheiro nauseabundo. Não aguentei...
E foi isso que a fez agir?
Exactamente, mas sem nunca pensar num projecto, apenas com a vontade de ajudar aquelas crianças que serão sempre a minha prioridade; são os meus filhos...
Mas acabou a criar uma orga- nização não governamental (ONG), a Dhaka Project, e a receber o Prémio Mulher do ano 2009 dos Emirados Árabes Unidos e a ser recebida por Cavaco Silva...
É verdade. O prémio foi uma boa surpresa que ajudou a dar visibilidade à ONG e a conse- guir mais apoios. Ser recebida pelo senhor Presidente ajudará, espero, a dar visibilidade à ONG e ao nosso trabalho e a conseguir ajuda para o nosso projecto.
Fala no plural...
Nem pode ser de outra forma; o trabalho dos voluntários é essencial
Quantas pessoas apoia?
Cem famílias e um total de 600 crianças que frequentam a creche e a escola primária.
Isso no universo de Daca significa...
Talvez um por cento.
Como podem os portugueses ajudar?
De momento, tenho 12 crianças que vêm cá e vão chegar este mês apenas com a roupa que trazem no corpo. Vêm cá passar um mês e vão ficar em casa de voluntários, estamos a pedir roupa, sapatos, escova de dentes. Ou então ajudem-nos divulgando o nosso trabalho.