Cristina Oliveira da Silva, in Diário Económico
O número de pessoas que acredita que não vale a pena procurar emprego cresceu 39,2%.
A subida do desemprego de longa duração arrasta consigo um número cada vez maior de pessoas que desistem de procurar emprego. Este é um resultado expectável dos períodos longos de crise, garantem os especialistas, mas não deixa de ser um problema com consequências profundas: o da exclusão social.
No primeiro trimestre de 2009, eram 36,2 mil os inactivos considerados "desencorajados", avançam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). O valor representa uma subida homóloga de 39,2%, apesar da queda ligeira de 0,1% verificada no total de inactivos com mais de 15 anos. E é também o maior crescimento desde o início da legislatura anterior, liderada por José Sócrates.
Na base do desencorajamento podem estar várias razões: a pessoa considera que não tem idade ou habilitações suficientes ou acha que não sabe como procurar emprego. Mas também há quem acredite que não vale a pena procurar novo posto ou que não existem empregos disponíveis. Em causa estão pessoas com mais de 15 anos que não têm trabalho, mas pretendem um (podendo, no entanto, não estar disponíveis para trabalhar).
"É de esperar [o aumento dos números] quando se está prolongadamente em crise", avança Paulo Pedroso, ex-ministro do Trabalho de António Guterres. O professor João Cerejeira, da Universidade do Minho, concorda, acrescentando que "o número de pessoas desencorajadas aumenta associado ao número de desempregados de longa duração, que também sobe". Nos primeiros três meses, já chegava a 305,1 mil o número de desempregados há mais de 12 meses, abrangendo mais de metade do total de desempregados.
A caminho da pobreza e da exclusão social
Quanto mais tempo desempregado, mais difícil se torna encontrar trabalho, maior a aproximação ao fim do subsídio e maior a probabilidade de baixar os braços, dizem os especialistas. E, depois, isto acaba por ter relação directa com o "fenómeno da exclusão social", que, por sua vez, conduz a problemas emocionais e de saúde, avança o dirigente da CGTP, Arménio Carlos.
"Tradicionalmente, estas passam para a pobreza e exclusão", acrescenta Paulo Pedroso, afirmando que em causa estão, genericamente, mulheres ou pessoas mais velhas que muitas vezes acumulam casos de insucesso. Aqui, continua o especialista, podem ser situações "de ruptura emocional ou psicológica, dependência, divórcio", avança Paulo Pedroso.
No entanto, uma grande parte dos "desistentes" também são mulheres que acabam por se dedicar a tarefas domésticas, eliminando assim outro tipo de despesas (transportes, refeições), diz Paulo Pedroso. Os dados do INE, aliás, revelam que as mulheres representavam 62,7% das situações de inactivos desencorajados, apesar de os homens terem contribuído mais para o aumento homólogo.
Apesar do crescimento homólogo acelerado, o número de inactivos desencorajados não deixa de ser pequeno face ao total de inactivos com mais de 15 anos (1,1%), que ascendia, no primeiro trimestre, a 3,4 milhões.
Os mesmos dados relevam ainda 71,1 mil inactivos disponíveis para trabalhar, mas que não fizeram diligências.