Paulo Gomes, in Diário de Minho
Jornadas do GAF debatem alternativas para a inclusão social
O sistema económico e social em que vivemos faliu porque produz um milhão de excluídos não estando, por conseguinte, ao serviço da pessoa e do bem comum.
A "sentença" foi deixada pelo padre Jardim Moreira, presidente da "Rede Europeia AntiPobreza – Portugal", durante as Jornadas que assinalam o nascimento do Gabinete de Apoio à Família e promovem uma reflexão sobre a construção de alternativas para a inclusão
Numa intervenção provocadora para, no seu dizer, «espicaçar consciências», esta sacerdote com larga experiência no terreno destas problemáticas sublinhou que a pobreza é, acima de tudo, «ausência de justiça» e, sendo a problemática tão profunda em Portugal questiona-se acerca da razão para os nossos políticos não terem ainda avançado com um verdadeiro «plano nacional de luta contra a pobreza» em vez de andarem com medida avulsas assistencialistas. Esta, frisou, perpetuam o problema da pobreza porque não atacam a sua raíz estrutural na nossa sociedade.
«Não se deixem iludir», advertiu Jardim Moreira, porque a pobreza não está ligada ao desemprego e justificou: «12 por cento dos trabalhadores encontram-se no limiar da pobreza», seja devido aos baixos salários, seja pela precaridade dos contratos.
Tudo isto faz com que em Portugal um em cada cinco cidadãos (18 por cento da população, ou seja dois milhões, segundo os dados oficiais!) viva no limiar da pobreza.
Para o sacerdote é imperioso que os que estão no poder implementem políticas que sejam consequentes e informadas por valores porque o que está em causa «são as pessoas e a sua dignidade» e não calculismos de votos ou de sucessos partidários.
Contudo, advertiu, «não existem inocentes diante da pobreza» e esta acção não toca apenas aos políticos, mas ao empenhamento de todos os cidadãos. José Pereirinha, outro dos intervenientes na reflexão sobre a problemática, numa visão de economista, questionou quanto é que cada um de nós estaria disposto a contribuir para eliminar a pobreza do nosso meio, através de um processo de redistribuição da riqueza.
Para este economista, a pobreza é um «custo» que se torna mais pesado num país com debilidades estruturais ao nível do ensino e formação (escolarização) e da produtividade (criação de riqueza). Por causa desta última é que este especialista vaticinou que quando a crise internacional passar é que virá à superfície a verdadeira crise portuguesa.
José Pereirinha, secundando o padre Jardim que havia falado da problemática das desestruturação familiar, disse que a economia familiar é um dado «fundamental» no debate da pobreza.
Para o dia de hoje estão programados um conjunto de quatro workshops, dois durante a manhã e outros dois da parte da tarde.
Os workshops dizem respeito à "Orientação vocacional ao longo da Vida" e ao "Empowerment através da arte" sendo formadores, respectivamente, Filomena Parada da FPCEUP e o Grupo de Teatro do Oprimido de Lisboa.
Durante a tarde poderão ficar a saber "o que é e como se previne" o
"Síndrome do burnout" pelo professor Ezequiel Ander- EGG. Podem ainda aprender com Maria de Lurdes Neves, da Sonae Capital, "Gestão de Conflitos e Técnicas de Negociação".