por Susana Salvador, in Diário de Notícias
Líderes da UE e da América Latina estiveram reunidos, tendo sido assinados acordos bilaterais de comércio.
A América Latina pediu ontem à União Europeia que, em tempos de crise, não olhe para os imigrantes como "inimigos". Na cimeira de ontem, em Madrid, as duas regiões afirmaram-se cada vez mais como "sócios globais", segundo o primeiro-ministro espanhol e anfitrião José Luis Zapatero. Foram assinados acordos de comércio entre a Europa e a América Central, mas também com o Peru e a Colômbia, e reatadas as negociações com o Mercosul.
"Peço humildemente, que evitem sanções e leis discriminatórias contra a imigração porque em tempos de crise económica, as sociedades tendem a procurar pessoas para culpar dos seus problemas", disse a Presidente argentina, Cristina Kirchner, em nome de todos os países latino-americanos. Uma região que, segundo o Fundo Monetário Internacional, deverá crescer 4% em 2010 - uma taxa de crescimento invejável diante dos 0,8% do Eurogrupo.
"A Europa tem alguns problemas a superar, alguma rigidez, que paradoxalmente na América Latina estamos a superar antes. Uma rigidez ideológica que confunde democracia com proteccionismo excessivo", indicou o Presidente peruano, Alan García. Zapatero, que defendeu uma mudança do sistema financeiro, defendeu também a liberalização: "Num mundo cada vez mais globalizado, as respostas para a prosperidade encontram-se na união dos esforços, na capacidade de crescimento económico e na política social, na abertura, na liberalização e não nas fronteiras."
A União Europeia é o segundo sócio comercial da América Latina, depois dos EUA, e o seu maior investidor, com um total de 312 mil milhões de dólares de investimento directo, segundo dados revelados durante a VI Cimeira UE-América Latina. Caso as negociações com o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) tenham sucesso - há países europeus, liderados pela França, que temem a abertura dos mercados aos produtos agrícolas da região - irá nascer a maior zona de livre comércio do mundo.
Na cimeira de Madrid, foi ainda aprovado a criação de um Mecanismo de Investimento na América Latina, dotado de 125 milhões de euros até 2013. Foi ainda anunciada a criação da Fundação Eurolat, um think tank destinado a aprofundar o conhecimento entre as duas regiões. Houve ainda um especial destaque para o Haiti, com a promessa de continuar a auxiliar o país abalado e destruído por um forte sismo a 12 de Janeiro.
A cimeira de Madrid ficou marcada por várias ausências, incluindo a do Presidente venezuelano, Hugo Chávez, tendo também havido a ameaça de boicote por causa de um convite ao líder das Honduras, Porfírio Lobo (não reconhecido por muitos). Lobo estará em Madrid mas hoje, para a cimeira entre UE e América Central.