por João Cristóvão Baptista, in Diário de Notícias
Preço 30% a 40% abaixo do mercado. Empresa tem duas mil casas para leiloar.
"Tenho 68 mil euros do senhor aqui à minha esquerda, quem dá mais? 68 mil euros para o lote 26, um apartamento em Queluz... 68 mil, uma, duas, vendido por 68 mil euros!" Durante toda a tarde de ontem sucederam-se as ofertas e os negócios deste género num dos vários leilões de casas que todas as semanas são organizados pela Euro Estates, uma empresa especializada na venda de imóveis provenientes do crédito malparado, que tem tido cada vez mais procura.
O leilão de ontem, realizado no Hotel Villa Rica, em Lisboa, contou com um catálogo de quase 60 imóveis - propriedade do Banco Espírito Santo - e que suscitaram o interesse de mais de 200 possíveis compradores, todos à procura da altura certa para licitar e fechar um bom negócio. No final do dia, mais de 80% das casas catalogadas tinham comprador.
A razão para este sucesso? "Os preços baixos face ao que se encontra no mercado", explicou ao DN. "Os preços são muito apelativos, com a maior parte dos imóveis a ser arrematada por menos 30% ou 40% do que o seu valor de mercado", adiantou o administrador, apontando a subida do crédito malparado em Portugal (atingiu em Março passado um valor histórico) como o principal responsável pela subida da procura.
Segundo o administrador da Euro Estates, a empresa vai realizar este ano mais de três dezenas de leilões. Um número que corresponde a um total de quase duas mil casas disponíveis e que ultrapassa os 20 eventos do género organizados pela empresa em 2009.
Pedro Girão Oliveira fez ainda questão de sublinhar ao DN que o crescimento dos leilões não é apenas um bom negócio para quem procura casa, mas também para os bancos, os principais clientes desta empresa. "Temos tido um número cada vez maior de imóveis disponíveis em cada leilão, o que significa que esta é uma boa forma de os bancos se livrarem dos imóveis resultantes das penhoras efectuadas", sublinhou, frisando que "apenas num fim-de- -semana, um banco pode conseguir vender mais de cem imóveis, alcançando assim ganhos que, de outra forma, poderiam levar meses a conseguir".
Abertos a todo o tipo de compradores, os leilões de casas têm também uma oferta de imóveis muito alargada: desde um T3 no Barreiro, com uma base de licitação de 35 mil euros, até uma moradia em Vila Franca de Xira, com cinco quartos e um preço inicial de 150 mil euros.
Os preços apelativos geram, por vezes, disputas agressivas entre licitadores e chegam mesmo a fazer com que um determinado imóvel seja vendido "pelo dobro do que inicialmente estava previsto", revelou ao DN o administrador da Euro Estates. "Ainda este fim-de- -semana tivemos um caso assim no Porto: uma vivenda que tinha um preço-base de 185 mil euros e que foi arrematada por 312 mil euros, um valor que, provavelmente, se encontra mesmo acima do valor pedido no mercado", contou.
Segundo apurou o DN junto de muitos dos licitadores presentes no leilão de ontem, a maior parte aparece à procura de casa para habitar por preços reduzidos. Contudo, muitos dos participantes vão à procura de oportunidades de investimento em imóveis que possam depois arrendar.