Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público
O INE apresenta esta semana os primeiros dados relativos à confiança dos consumidores depois do anúncio das medidas de contenção orçamental
De que forma é que vão reagir em Portugal os consumidores e as empresas à crise orçamental que se vive na Europa e às medidas de austeridade entretanto lançadas pelo Governo? A resposta a esta questão, decisiva para se saber qual o rumo da economia portuguesa durante os próximos meses, pode começar a ser respondida quando o Instituto Nacional de Estatística publicar, na próxima sexta-feira, os resultados dos Inquéritos de Conjuntura às Empresas e aos Consumidores de Maio.
Nesse momento, vai-se saber como é que evoluiu a confiança dos consumidores portugueses e também quais as expectativas de negócio dos empresários da indústria, serviços, comércio a retalho e construção num cenário em que, no campo económico, as más notícias dominaram a actualidade.
De facto, apesar de os países do Sul da Europa - especialmente a Grécia - já estarem, desde o início do ano, sob uma forte pressão dos mercados, foi durante este mês que se tornou mais clara a gravidade da situação, com os países da zona euro a terem não só de aprovar um plano de salvamento imediato à Grécia como a preparar desde já um mecanismo de urgência que ajude outros países que caiam na mesma situação de risco.
Além disso, foi em Maio que um pouco por toda a Europa se começaram a anunciar novas medidas de contenção orçamental. Em Portugal, o Governo, em acordo com o PSD, anunciou, entre outras medidas de austeridade, a subida da taxa do IVA, a introdução de uma taxa adicional de IRS e um reforço do IRC para as empresas com mais de dois milhões de euros de lucros.
O indicadores de confiança que serão agora publicados pelo INE são os primeiros que levam já em conta todos estes novos factos, pelo que não é difícil prever um impacto significativo nas expectativas dos portugueses, relativamente não só à situação económica do país mas também em relação à sua própria situação financeira.
De notar que em Portugal o indicador de clima económico - que é calculado com base nas respostas das empresas - registou em Março e Abril uma subida, depois de nos três meses anteriores ter estado a recuar. No que diz respeito à confiança dos consumidores, os últimos meses já têm revelado uma trajectória descendente, embora realizada de uma forma moderada.
Para a evolução da economia, estes indicadores de confiança podem ser decisivos. A expectativa de tempos mais difíceis por parte das empresas e das famílias pode ter como consequência uma maior prudência na hora de decidir quais os investimentos a realizar e quais as compras a fazer. E assim, é possível que uma redução dos níveis de confiança venha acompanhada por uma quebra da procura interna que abranda a economia.
Na última década, em Portugal, este tipo de fenómeno já ocorreu por duas vezes. Tanto em 2002 como em 2005, quando os Governos de Durão Barroso e de José Sócrates colocaram em prática planos de austeridade (que incluíram também a subida do IVA), o resultado imediato foi uma quebra muito forte dos níveis de confiança dos empresários e das famílias. Logo a seguir, afectada pela diminuição do investimento e do consumo, a economia entrou em recessão.
Agora, para Portugal e para vários outros países da zona euro, esta é, novamente, a principal ameaça para a evolução da economia no curto prazo.