29.4.09

Mundo deve preparar-se para o pior cenário, avisa a OMS

Alexandra Campos e Romana Borja Santos, in Jornal Público

Israel e Nova Zelândia também têm casos confirmados de gripe de origem suína. Portugal cria Equipa de Acompanhamento da Gripe


Apesar de ainda ser evitável, o espectro da ocorrência de uma pandemia de gripe aumenta de dia para dia. Ontem, a Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu aos países para se prepararem para o pior dos cenários e admitiu a hipótese de voltar a aumentar o nível de alerta para uma epidemia global em breve. "Os governos deveriam tomar as medidas oportunas para fazer face a uma possível pandemia", avisou o director-geral adjunto da organização, Keiji Fukuda.

A nova estirpe do vírus de origem suína H1N1 continua a espalhar-se pelo mundo. Mas é possível que, mesmo evoluindo para uma pandemia, provoque apenas doença moderada, pois por enquanto só morreram pessoas no México, um mistério que continua por desvendar. Keiji Fukuda lembrou, porém, que a gripe espanhola de 1918, que matou até 40 milhões de pessoas, também começou de forma suave. "Temos de ter atenção e respeitar o facto de a gripe se mover de maneiras que não podemos prever".

Enquanto no México o número de novos casos parece estar controlado, a crer nas informações oficiais, os casos confirmados em todo o mundo não param de aumentar. Países tão distantes como Israel,a Nova Zelândia e a Costa Rica juntaram-se ontem ao grupo dos que já têm casos confirmados de infecção - e havia 65 casos confirmados de gripe de origem suína nos Estados Unidos, segundo o Centro de Controlo e Prevenção das Doenças daquele país. O Presidente Barack Obama pediu mesmo ao Congresso que desbloqueasse 1,5 mil milhões de dólares para reforçar a capacidade de reacção dos EUA face a uma eventual agravamento da epidemia, adiantou a Casa Branca. E na Califórnia foi decretado o estado de emergência enquanto se investigam duas mortes suspeitas.

A OMS está agora a concentrar as suas atenções nas necessidades dos países em vias de desenvolvimento, que normalmente são os mais afectados nas pandemias. "São atingidos de forma desproporcionadamente dura", frisou Fukuda. Também a revista médica The Lancet assinalava em editorial o risco que correm sobretudo os países mais pobres. Usando dados da gripe espanhola de 1918, a revista calculou em 2006 que a próxima pandemia poderá matar 62 milhões de pessoas, sendo que 96 por cento vivem em países de menores recursos.

O que o responsável da OMS quis dizer foi que "não podemos olhar só para o nosso umbigo, estamos dependentes do que vai acontecer noutros países", explica Filipe Froes, pneumologista e consultor da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Países que, ao contrário dos mais ricos, não prepararam planos de contingência para uma pandemia, nem compraram reservas de antivirais. "E todos estamos separados uns dos outros no máximo por três escalas de avião", nota.

Ontem, a comissária europeia de Saúde, Androulla Vassiliou, depois de inicialmente ter recomendado que as pessoas não viajassem para o México, recuou, considerando prematura a imposição de restrições de viagens para os países afectados. Anunciou que vai avaliar hoje com a indústria farmacêutica a necessidade de produção de uma nova vacina e os stocks de medicamentos e disse esperar que a reunião extraordinária de ministros da Saúde convocada para amanhã no Luxemburgo permita chegar a protocolos comuns sobre vigilância, recomendações a turistas e tratamento dos casos confirmados. A Comissão insistiu que os casos de gripe suína nos humanos não estão relacionados com o consumo de carne de porco e decidiu mudar o nome da doença para "nova gripe".

Portugal sem casos confirmados

Portugal respondeu a esta crise sanitária mundial com a criação de uma Equipa de Acompanhamento da Gripe, que vai "monitorizar a evolução da actualização da situação do H1N1", explicou a ministra da Saúde, Ana Jorge. Com elementos do Governo, da Direcção-Geral da Saúde, do Instituto Ricardo Jorge, do INEM, para além de infecciologistas, epidemiologistas e virologistas, o grupo vai fazer todos os dias o ponto da situação. Sublinhando que Portugal tem um plano de contingência para a pandemia de gripe (desde 2006), Ana Jorge não quis antecipar cenários como o encerramento de escolas. Por agora, estamos no grau quatro de alerta de pandemia de uma escala de seis. "Isto significa que existe um ou mais pequenos surtos no mundo com transmissão pessoa-a-pessoa limitada. Assim, cabe aos Estados conter o novo vírus ou retardar a sua disseminação", justificou. Uma opinião partilhada pelo director-geral da Saúde, Francisco George. "Não sabemos exactamente como se irá propagar", pelo que "não faz sentido accionar respostas sem ser o momento certo". "Estamos em posição de alerta, mas não alarmados".

A ministra esclareceu também que não se confirmaram as suspeitas que recaíam sobre duas portuguesas que regressaram domingo do México e que apresentavam um quadro clínico gripal. Sobre os dois casos já confirmados em Espanha, defendeu que a proximidade não é factor a considerar.

Para além dos dois casos confirmados, até ontem, as autoridades espanholas tinham 32 doentes em estudo, à espera dos resultados das análises. "Estão a responder bem ao tratamento e a sua situação não apresenta perigo", comentou a ministra da Saúde e Políticas Sociais, referindo-se aos dois estudantes da Universidade de Valência afectados. Ao jovem de 23 anos somou-se outro de 24 anos, que esteve no México na mesma viagem de fim de curso. E as autoridades espanholas alargaram o protocolo de prevenção que aplicam às rotas oriundas do México aos voos com origem nos EUA. com Nuno Ribeiro, em Madrid