15.12.14

A equipa contra a qual ninguém quer jogar

Tiago Pimentel, in Público on-line

A polémica está instalada nos campeonatos distritais da República Checa, devido ao boicote de que é alvo uma equipa formada por ciganos.

Chegar a meio do campeonato no quarto lugar da classificação, com 45% de vitórias, é um registo francamente bom para uma equipa recém-criada e que partia para a competição sem grandes aspirações. Mas os cinco triunfos averbados pelo Junior Roma Decin nos 11 jogos disputados têm um sabor particularmente amargo: foram todos obtidos sem precisar de marcar golos, devido à falta de comparência dos adversários. Este caso está a provocar discussão na República Checa, com acusações de discriminação aos clubes que se recusam a enfrentar o Junior Roma Decin. Tudo porque esta é uma equipa constituída por elementos de etnia cigana.

Ninguém admite que esse seja o motivo para a falta de comparência nos encontros com a equipa de Decin, localidade junto à fronteira com a Alemanha. “Não tem nada a ver com racismo. Tivemos uma má experiência com eles e é por isso que não queremos defrontá-los”, justificou Josef Kucera, treinador do Rybniste, que falhou a visita ao Junior Roma logo na segunda jornada. As palavras do técnico aludiam aos acontecimentos de 2011, quando no final de um encontro entre o FC Decin (a anterior encarnação do Junior Roma) e o rival Loko Decin um jogador do emblema de matriz cigana foi expulso por agredir o árbitro, descontente com a expulsão de um outro jogador, seu irmão. O incidente descambou numa batalha entre as duas equipas, que se espalhou do relvado aos balneários e bancadas.

O clube foi condenado a pagar uma multa de 28 mil coroas checas (pouco mais de 1000 euros), mas não cumpriu e o clube foi extinto. Só este ano as autoridades permitiram que regressasse ao futebol: agora como Junior Roma, a equipa recuperou alguns dos jogadores originais. Como o guarda-redes Patrik Herák, o autor da agressão que instigou os distúrbios de 2011: “Foi um erro. [O árbitro] tinha 70 anos. Envergonhei-me e envergonhei toda a equipa”, disse à The Economist.

Três anos depois, o Junior Roma continua a ser olhado de lado. “Não é um problema relacionado com racismo”, insistiu o porta-voz da federação checa de futebol, Jaroslav Kolar, acrescentando que os outros clubes queixam-se do comportamento desordeiro dos adeptos ciganos e por isso não se apresentam a jogo: cinco clubes já o fizeram, pagando a consequente multa, e só não foram mais por questões... financeiras. “Jogámos contra eles, mas só porque o nosso clube não tem dinheiro para pagar a multa”, confessou um elemento do Prysk.

Num país onde as estimativas apontam para que haja uma população de 300 mil ciganos, o caso do Junior Roma despertou atenções e a vaga de faltas de comparência motivou um grupo de diplomatas a agir: pessoal das embaixadas de Dinamarca, Estónia, Finlândia, Grã-Bretanha, Lituânia, Noruega, Suécia e EUA formou uma equipa e foi a Decin jogar sob o lema “Mostra o cartão vermelho ao racismo”. Será que vai fazer mudar a atitude das outras equipas no campeonato? “Veremos”, desabafou o presidente e treinador do Junior Roma, Pavel Horváth (não confundir com o homónimo que jogou no Sporting). Para já o campeonato está parado e só regressa em Abril.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos