10.12.14

«As pessoas pobres não sabem cozinhar»

in http://www.tvi24.iol.pt/internacional/reino-unido/as-pessoas-pobres-nao-sabem-cozinhar

Um relatório inglês examinou as causas do rápido aumento do número de pessoas que se tornaram dependentes de bancos alimentares

Um relatório inglês, publicado na manhã desta segunda-feira, alertou para a pobreza alimentar no Reino Unido. O relatório, intitulado «Hunger and Food Poverty», examinou as causas do rápido aumento do número de pessoas que se tornaram dependentes de bancos alimentares.

No seu lançamento, em Westminster, a Baronesa Anne Jenkin afirmou que as pessoas pobres estão a passar fome porque «não sabem cozinhar», considerando que as pessoas mais pobres são incapazes de preparar refeições nutritivas devido à falta de competências básicas e, por isso, acabam por recorrer ao banco alimentar.

«Perdemos muitas das nossas habilidades de culinária e as pessoas pobres não sabem cozinhar», disse Jenkin.

Jenkin reconheceu mais tarde que as palavras tinham sido mal escolhidas e que estava a tentar passar a mensagem de que as refeições caseiras são mais baratas e mais nutritivas do que refeições embaladas.

«O que eu queria dizer é que a sociedade perdeu a habilidade de cozinhar. Estou ciente que cometi um erro ao dizer isso e peço desculpa a qualquer pessoa que se tenha sentido ofendida. Mas o que disse é válido, se as pessoas tivessem as capacidades de culinária que as antigas gerações tinham, nenhum de nós comeria tantas refeições pré-preparadas», disse Jenkin à rádio da BBC 4’s World At One.


Os resultados do relatório

O relatório explica que as famílias estão a recorrer aos bancos alimentares porque não têm capacidade monetária para fazerem compras. Explica-se que as questões estruturais, como atrasos e cortes de benefícios, juntamente com baixos salários e aumento do custo de vida, são a razão predominante por dezenas de milhares de famílias estarem a passar fome.

«Podem ter dificuldade no orçamento de uma semana de compras porque qualquer dinheiro que entra vai para outras coisas, não essenciais, ou para pagar dívidas. Algumas famílias também podem achar que é difícil preparar ou cozinhar refeições decentes, tornando-as mais propensas a comprar refeições prontas», explica o relatório.

Segundo o The Telegraph, o relatório sobre a fome no Reino Unido descobriu que desde a criação da rede Trussel Trust, em 2004, o número de prestadores de assistência alimentar aumentou pelo menos 1500, incluindo 800 bancos alimentares.

Os bancos alimentares ingleses ajudaram 128 697 pessoas entre 2011 e 2012, mas entre 2013 e 2014 o número subiu para 913 138. O relatório afirma que, a partir deste aumento, é óbvio que «a demanda por assistência alimentar está a aumentar».

Descobriu-se ainda que 4.3 milhões de toneladas de excedentes alimentares por ano são descartados pelos supermercados, com apenas 0.1 por cento dado para caridade.

O relatório reconheceu que as famílias do Reino Unido com baixos rendimentos «foram atingidas desproporcionalmente» pelo aumento do custo de vida e isso danificou o valor dos seus rendimentos.

A maioria das recomendações baseiam-se na redução do desperdício de alimentos, convidando os supermercados a trabalhar mais estreitamente com os bancos alimentares e a elaborar maneiras de passar alimentos frescos não utilizados para instituições de caridade para que possam ser usados ao invés de deitados no lixo.