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22.9.23

Um em cada quatro madeirenses vive em risco de pobreza

por Diana Craveiro - Antena 1, in RTP


A plataforma de dados estatísticos Pordata revelou esta sexta-feira que 25 por cento dos madeirenses vive em risco de pobreza. Destaca também que, naquele arquipélago, a taxa de desemprego é superior à média nacional, assim como a taxa de abandono escolar.
A repórter Diana Craveiro foi conhecer o trabalho da “Monte de Amigos”, uma Instituição Particular de Solidariedade Social, que presta apoio, na Madeira, às famílias que vivem em condições económicas mais frágeis.

A Madeira é uma das regiões do país com maior taxa de risco de pobreza, com 30% da população a viver em risco de exclusão social.

Os madeirenses vão a votos no próximo domingo.

12.9.23

Marrocos: “O importante é ajudar as pessoas”, o resto “é para esquecer”

Renata Monteiro (texto) e Tiago Bernardo Lopes (fotos), in Público


A descida das temperaturas em Marrocos é agora mais uma preocupação para quem passou a quarta noite ao relento depois do sismo. As equipas de intervenção já só esperam recuperar corpos dos escombros.


20 quilómetros de Talat N’Yaaqoub, o trânsito avança num só sentido, demorado. O jipe de caixa aberta de seis amigos de Tahanout está paralisado na fila há 20 minutos, carregado de água, comida, sapatos. Abderrahim Bouaadi, 23 anos, está demasiado alerta para ficar tão parado. “O que esperamos é que a situação vá ficando cada vez mais grave quanto mais subirmos”, diz, em voz alta, mas como se se estivesse a preparar mentalmente para o que os aguarda nas aldeias mais remotas das montanhas do Atlas, onde a ajuda começa finalmente a chegar. Não precisaram de avançar muito mais. A aldeia a seguir está arrasada. “As pessoas estão a sofrer. Ajudar o outro é um valor da nossa religião — da humanidade, provavelmente. É por isso que vamos.”

Demora-se cinco horas a percorrer os 100 quilómetros entre Marraquexe e Talat N’Yaaqoub, uma comuna rural montanhosa na província de Al-Haouz, muito próxima do epicentro do terramoto que provocou 2852 mortes, no último balanço oficial.


A20 quilómetros de Talat N’Yaaqoub, o trânsito avança num só sentido, demorado. O jipe de caixa aberta de seis amigos de Tahanout está paralisado na fila há 20 minutos, carregado de água, comida, sapatos. Abderrahim Bouaadi, 23 anos, está demasiado alerta para ficar tão parado. “O que esperamos é que a situação vá ficando cada vez mais grave quanto mais subirmos”, diz, em voz alta, mas como se se estivesse a preparar mentalmente para o que os aguarda nas aldeias mais remotas das montanhas do Atlas, onde a ajuda começa finalmente a chegar. Não precisaram de avançar muito mais. A aldeia a seguir está arrasada. “As pessoas estão a sofrer. Ajudar o outro é um valor da nossa religião — da humanidade, provavelmente. É por isso que vamos.”

Demora-se cinco horas a percorrer os 100 quilómetros entre Marraquexe e Talat N’Yaaqoub, uma comuna rural montanhosa na província de Al-Haouz, muito próxima do epicentro do terramoto que provocou 2852 mortes, no último balanço oficial.


Ontem, as equipas de intervenção já só esperavam recuperar corpos dos escombros. Frente a eles, os familiares aguardam sentados em cadeiras de plástico brancas, olhando distraidamente para o céu quando ouvem mais um helicóptero ou drone de buscas. Já não esperam. “Parei de contar, foram muitos hoje”, desabafa um bombeiro que avança para o acampamento, para descansar. Não foi possível apurar quantas pessoas estão ainda desaparecidas.

Em algumas cidades rurais mais pequenas, como Asni, o exército montou tendas azuis e um hospital para a população que agora dorme à beira da estrada, junto às casas que desabaram nas escarpas.


Mais à frente, em Ouirgane, uma unidade de saúde móvel está prestes a abrir. Segundo o responsável do Ministério da Saúde marroquino, que ultimava os preparativos das salas de consulta, a unidade é um dos “vários hospitais civis e militares” que fazem triagem das vítimas, prestam primeiros socorros e ajuda social e psicológica nas aldeias das montanhas do Atlas. “O mais importante é salvar as pessoas, tratá-las bem, dar-lhes medicamentos e apoio psicológico. Tudo o resto são problemas para esquecer”, disse, ao lado dos médicos e enfermeiros que esperavam para saber para onde seriam destacados.

Minutos depois, chega a primeira paciente: uma mulher grávida entra apoiada no marido, que leva o filho pela outra mão. Em frente, um casal de médicos alemães, a viver em Espanha, aguardam para saber se precisam e aceitam ajuda.


Na estrada que acompanha o vale do rio Nfis, passam de um lado para o outro camiões do exército com militares, ambulâncias de sirenes e piscas ligados e carrinhas Mercedes com mantimentos no tejadilho, que as motas vão agilmente serpenteando. Os carros levam malas cheias de khobzs, pães achatados empilhados como discos.

A descida das temperaturas é agora mais uma preocupação para as pessoas que passaram a quarta noite ao relento. “Disseram que a terra da montanha aquece e nos manterá quentes e é por isso que estamos aqui”, comenta Maryam Malal, 25 anos, uma professora primária de Agadir que voltou à aldeia onde cresceu depois do sismo para ajudar a prima, que tem na tenda improvisada de madeira e panos uma bebé de 15 dias, Maria. “Precisamos de ajuda para reconstruir as casas. Porque podemos trazer comida, mas muitos perderam as casas e são pobres, muito pobres, não as conseguem reconstruir.”


Os marroquinos que ficaram com a casa danificada ou destruída esperam que o rei Mohamed VI cumpra a promessa de criar um programa de emergência para a reconstrução de habitações, muitas delas construções de terra, um método tradicional de que as populações nativas se orgulham.



Em Talat N’Yaaqoub, um homem de casaco preto anda às voltas, mãos cruzadas atrás das costas e cabeça baixa. “É o meu pai que está ali em baixo”, grita, quando as equipas de resgate sinalizam que encontraram mais duas pessoas. O resto acontece tudo muito rápido: dezenas de homens formam um comboio que passa o mais rápido possível por todos os que assistem, expectantes. No meio levam uma maca com um corpo tapado por um lençol e uma multidão segue-os até à ambulância onde se certificam que a maca é cuidadosamente colocada e levada para longe. Depois, só ficam os choros.


No mesmo descampado onde famílias e vizinhos se abraçaram, dois helicópteros militares aterram à vez para transportarem para os hospitais os feridos mais graves, pó a voar por todo o lado quando levantam. Já de noite, um militar refugia-se da confusão e, sentado no que era a entrada da casa de alguém, tira as botas, o boné, exala e dá um golo no chá. Por trás dele, as ambulâncias continuam a chegar e a partir. Ele calça as botas, puxa o fecho, e vai também.

[artigo disponível na íntegra só para assinantes]


11.9.23

Emergência social

FRANCISCO SARSFIELD CABRAL, opinião, in RR

A pobreza em Portugal deixou de ser um assunto envolvendo apenas uma pequena fatia da população. Estamos a entrar numa situação de emergência social.


Foi conhecido há dias um estudo sobre a pobreza em vários países europeus, incluindo Portugal. Trata-se do primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade, encomendado pela organização não governamental francesa Secours Populaire Français. Foram ouvidas dez mil pessoas, com 18 anos ou mais, em dez países (Alemanha, França, Grécia, Itália, Polónia, Reino Unido, Moldávia, Portugal, Roménia e Sérvia).

O que esse estudo divulga pode ser considerado um violento murro no estômago. A presidente da Caritas portuguesa, Rita Valadas, classificou à Renascença de “assustadores” os números revelados naquele Barómetro. Por exemplo, o salário de metade dos portugueses empregados não chega para as despesas. Ou: Portugal é o terceiro país da União Europeia com mais trabalhadores precários (e os dados mais recentes mostram um agravamento da situação).

Por outro lado, o Barómetro revela que quase metade dos europeus desistiram de aquecer as suas casas no inverno, devido a uma situação económica difícil. Além disso, 38% dos inquiridos já não fazem três refeições por dia, 39% deixaram de comprar carne para poupar dinheiro e 10% recorrem a associações de caridade para obter alimentos. Ou seja, a Europa, que julgávamos rica, está a ser fortemente atingida pela pobreza, a fazer fé neste Barómetro. Mas Portugal é um dos países europeus em pior situação.

Um dos dramas, em Portugal, reside em que o setor social está a perder meios para acorrer aos mais atingidos pela pobreza. "Os donativos vêm sendo cada vez menores. Nós temos famílias que eram doadoras e que estão, neste momento, a passar dificuldades, para as quais nós tivemos de encontrar soluções, porque elas próprias também estão em situação de risco", afirmou Rita Valadas à Renascença.

Ainda mais preocupante é a opinião da presidente da Caritas sobre o papel do setor social: este setor não está a ser capaz de retirar as pessoas da situação de pobreza. Rita Valadas dá o exemplo da campanha “Inverter a curva da pobreza”, que a Caritas lançou em 2020 e que ficou "muito aquém das necessidades".

Assim, a pobreza em Portugal é um drama envolvendo cada vez mais pessoas. Estamos a entrar numa situação de emergência social.

8.9.23

Mundo abandona meninas e mulheres, denuncia a ONU

in GZH 


Desde a luta contra a pobreza, passando pelo acesso à educação, à representação política ou às oportunidades econômicas, o mundo "abandona meninas e mulheres", lamenta a ONU em um relatório sobre as desigualdades entre homens e mulheres, publicado nesta quinta-feira (7).


O relatório da ONU Mulheres analisa os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) adotados pelos Estados-membros da ONU em 2015, com o objetivo de construir um futuro melhor para todos até 2030.

"Quando olhamos para os dados, parece que o mundo não consegue progredir e alcançar a igualdade de gênero. E está se tornando, eu diria, um objetivo cada vez mais distante", disse à AFP Sarah Hendriks, vice-diretora-executiva da agência da ONU.


Um dos ODS prevê o fim, até o final da década, da discriminação, da violência contra as mulheres, dos casamentos forçados e da mutilação genital. Que o trabalho doméstico seja compartilhado, que o acesso à saúde sexual e a participação efetiva na vida política e econômica sejam garantidos.


Porém, "no caminho para 2030, o mundo está abandonando as meninas e mulheres" e a maioria das metas deste objetivo específico não estão na direção certa, afirma o relatório.


Todos os anos, 245 milhões de mulheres com mais de 15 anos são vítimas de violência física por parte dos seus parceiros; uma em cada cinco mulheres casa antes dos 18 anos; as mulheres realizam 2,8 horas a mais de trabalho doméstico do que os homens e representam apenas 26,7% dos parlamentares.


Para mudar a situação, seriam necessários 360 bilhões de dólares (1,7 trilhão de reais) de investimentos adicionais por ano em cinquenta países em desenvolvimento que têm 70% da população mundial, estima a agência.


Segundo a ONU, ao ritmo atual, 575 milhões de pessoas viverão em pobreza extrema até 2030, longe da erradicação esperada. E 342 milhões são mulheres, 8% das mulheres do mundo, recorda o relatório.


* AFP

7.9.23

Cáritas. Números da pobreza em Portugal são "assustadores"

in RR

Rita Valadas alerta que instituição tinha famílias doadoras que agora precisam de ajuda.
A presidente da Cáritas portuguesa, Rita Valadas, considera assustadores os números divulgados, esta quarta-feira, pelo primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade. Em declarações à Renascença, Valadas explica que os números agora conhecidos são inéditos e que há cada vez mais pessoas em situação de pobreza.

"Não é de estranhar que as pessoas que começaram - já há muito tempo e com crises sucessivas - a encontrar soluções alternativas para cortar tudo quanto podiam cheguem a este ponto. É assustador porque, de acordo com o estudo, 50% das pessoas não têm capacidade para pagar as suas despesas mensais. Nós, neste momento, estamos a falar de 50%. Nós nunca falamos de 50% de pessoas em situação de pobreza", alerta.

A presidente da Cáritas realça que os indicadores presentes no Barómetro revelam "pessoas que têm vindo a ver a sua capacidade de reagir a estas crises sucessivas, aos encontrões que levam na capacidade de usar o seu rendimento para pagar despesas que são, cada vez mais, de primeira necessidade. E são novas, não são as mesmas pessoas", esclarece.

Os dados do barómetro revelam que quase metade dos europeus desistiram de aquecer as suas casas no inverno, devido a uma situação económica difícil. Por outro lado, os países onde se sentem mais dificuldades também são mais solidários. É o caso de Portugal, onde 84% dos inquiridos mostra-se disponível para ajudar pessoas que vivem na pobreza. Rita Valadas lembra o período de pandemia, onde a solidariedade dos portugueses foi fundamental no apoio às dificuldades sentidas.

"Nós somos um país absolutamente fantástico no que diz respeito à solidariedade. Durante o tempo de pandemia houve um aumento de solidariedade que foi importantíssimo, porque o setor solidário foi inquestionável no apoio e na resolução das situações mais difíceis."
"Tínhamos famílias que eram doadoras e que estão, neste momento, a passar dificuldades"

A presidente da Cáritas distingue as estatísticas da realidade que diz ver na rua. Designando-se "técnica do terreno", considera que, "se olharmos só para os números, se calhar conseguimos fazer uma estatística bonita". "Mas eu sou técnica do terreno e as pessoas não saíram da situação".

Rita Valadas esclarece que o setor social não está a ser capaz de retirar as pessoas da situação de pobreza.

"Tristemente - eu gostava muito de não ter que dizer isto, mas o que nós estamos a falar são pessoas de quem o setor solidário cuida, não retirando da pobreza porque não conseguimos sair da emergência."

A dirigente dá o exemplo da campanha "inverter a curva da pobreza", que a organização humanitária lançou em 2020 e mantém a decorrer, que ficou "muito àquem das necessidades".

Valadas alerta, ainda, que o estrangulamento financeiro das pessoas está a comprometer as doações e a dificultar o trabalho do setor solidário.

"Os donativos já vêm sendo cada vez menores. Nós temos famílias que eram doadoras e que estão, neste momento, a passar dificuldades, para as quais nós tivemos de encontrar soluções, porque elas próprias também estão em situação de risco", remata.

Sem poupar e a cortar despesas. Um retrato da pobreza e precariedade em Portugal

João Pedro Quesado, in RR

Oito por cento dos portugueses inquiridos dizem que chegam ao fim do mês sem dinheiro. Mudar os comportamentos é a solução de muitos para combater a crise, mas isso leva a evitar refeições ou optar por não aquecer a casa quando têm frio.

Mais de seis em cada 10 portugueses não têm possibilidade de poupar dinheiro ao fim do mês, uma situação semelhante à da Roménia e que é pior apenas na Sérvia, na Moldávia e na Grécia. Esta é uma das conclusões do Barómetro Europeu sobre a Pobreza e Precariedade, lançado esta quarta-feira, que aponta que o salário de metade dos portugueses não cobre as despesas.

Portugal foi incluído na segunda edição deste estudo, uma sondagem da Ipsos realizada para a Secours Populaire Français, uma organização não-governamental que retrata uma situação social preocupante em dez países europeus - Alemanha, França, Grécia, Itália, Moldávia, Polónia, Portugal, Reino Unido, Roménia e Sérvia.

A dificuldade em poupar dinheiro ao fim do mês anda de mão dada com o sentimento de que os salários não chegam para as despesas mensais. Entre os portugueses inquiridos, 8% não consegue chegar ao fim do mês sem ficar sem dinheiro. Têm cada vez mais dificuldades em chegar ao fim do mês e têm medo de cair na precariedade – onde 2% dos portugueses já estão.

Mas a precariedade pode ser mais abrangente do que simplesmente ter dinheiro suficiente para chegar ao fim do mês. Quando questionados sobre a situação financeira atual, 35% dos portugueses dizem que estão numa situação precária, e que uma despesa inesperada pode desequilibrar a balança.

A somar a isto, 40% dos portugueses sentem-se em risco alto de entrar numa situação de insegurança financeira nos próximos meses – um sentimento semelhante - em proporção - às populações francesa e alemã.

Assim, os portugueses, como os restantes europeus, estão preocupados com a sua capacidade de lidar com a inflação nos produtos alimentares (69%), manter um padrão de vida “decente” depois da reforma (64%) e lidar com despesas inesperadas (67%).

Metade dos portugueses também estão preocupados com a capacidade de pagar as contas todos os meses.

Portugueses cortam nas despesas para sobreviver

Em resposta a uma situação em que 35% dos portugueses consideram que o seu poder de compra diminuiu bastante e 88% apontam o aumento de preços como principal razão, os comportamentos também se alteram.

Nos últimos seis meses, 48% dos portugueses já viveram situações como optar por não aquecer a casa, desistir de tratar um problema de saúde, saltar refeições e pedir dinheiro emprestado.

Em Portugal, 12% dos pais de crianças e jovens até aos 18 anos também dizem que já tiveram dificuldades em corresponder às necessidades básicas das crianças, como a alimentação, a saúde, as despesas escolares e comprar roupa.

Mais de um quarto dos pais - 27% - diz ainda que nem sempre comem o suficiente para poder alimentar os filhos, enquanto 28% dos portugueses deixaram de fazer três refeições por dia pelo menos algumas vezes.

93% dos portugueses inquiridos dizem que procuram sempre preços baixos e descontos quando fazem as compras. 11% pede o apoio de organização como a Cáritas para a alimentação.

Barómetro Europeu sobre Pobreza. Em Portugal "trabalha-se e empobrece-se", lamenta a CGTP

Por RTP

O salário de metade dos portugueses empregados não chega para as despesas, segundo o Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade. Em entrevista à RTP, a secretária-geral da CGTP frisou que, no nosso país, "trabalha-se e empobrece-se", o que é "inaceitável".
“Os salários dos trabalhadores no nosso país de facto são salários muito baixos que não dão garantia de dignidade de vida, de poder responder às necessidades que os trabalhadores têm – bem como as pensões, em relação aos reformados e pensionistas”, afirmou Isabel Camarinha.

“No nosso país trabalha-se e empobrece-se. Isto é inaceitável, porque efetivamente nós temos todas as condições para garantir a vida digna a todos”.

A secretária-geral da CGTP lembrou que “tem havido crescimento económico, tem havido crescimento da produtividade, mas isso tudo não tem sido acompanhado pelo aumento dos salários dos trabalhadores”.

“É um facto que os impostos sobre quem trabalha e trabalhou são demasiado elevados. Agora, quando se diz que os impostos em Portugal são demasiado elevados, isto não é verdade. Nós temos uma carga de impostos (…) abaixo da média europeia. A questão é quem é que os paga”, frisou a responsável.

O Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade, divulgado esta quarta-feira, revela que a situação dos trabalhadores europeus é muito preocupante, especialmente em Portugal e na Sérvia.

O estudo realça que ter um emprego não significa necessariamente ser capaz de sobreviver financeiramente, situação que afeta mais de um terço dos trabalhadores europeus.

A situação leva esses trabalhadores a renunciar a certas necessidades, como comer o suficiente, viajar ou aquecer as casas no inverno.

6.9.23

Pobreza. Governo relembra aumento de 8% na média dos salários

in RTP

A ministra do Trabalho diz que o Governo tem tomado medidas para que as famílias portuguesas possam enfrentar as consequências da inflação. E destaca que, nos últimos meses, os salários aumentaram em média oito por cento.

“A pobreza não é apenas falta de rendimento; é, sim, a falta de escola, alimentos, cuidados de saúde, abrigo, inclusão política, escolha, segurança e dignidade” (A. Guterres, S.G. ONU)

in Sete Margens


“A pobreza não é apenas falta de rendimento; é, sim, a falta de escola, alimentos, cuidados de saúde, abrigo, inclusão política, escolha, segurança e dignidade” (A. Guterres, S.G. ONU)

Salário de metade dos portugueses não chega para as despesas

Por Lusa, in SIC

Um em cada dois portugueses atualmente empregados sente que o seu salário não cobre todas as suas despesas. Estudo revela que situação dos trabalhadores europeus é "muito preocupante, especialmente em Portugal e na Sérvia".


Um em cada dois portugueses atualmente empregados sente que o seu salário não cobre todas as suas despesas, de acordo com o primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade, divulgado esta quarta-feira.

O relatório do estudo realizado pela empresa Ipsos referiu que a situação dos trabalhadores europeus é "muito preocupante, especialmente em Portugal e na Sérvia".


"Ter um emprego não significa necessariamente ser capaz de sobreviver financeiramente", escreveu num comunicado o autor do estudo, Etienne Mercier, sublinhando que esta situação afeta mais de um terço (36%) dos trabalhadores europeus.

O estudo, encomendado pela organização não governamental francesa Secours Populaire Français, ouviu 10 mil indivíduos, com 18 anos ou mais, em 10 países (Alemanha, França, Grécia, Itália, Polónia, Reino Unido, Moldávia, Portugal, Roménia e Sérvia).

Quase três em cada dez europeus, incluindo 49% dos gregos disseram que se encontram numa situação precária, o que os leva a renunciar a certas necessidades, como comer o suficiente ou aquecer as suas casas, alertou o barómetro.

Um em cada dois portugueses atualmente empregados sente que o seu salário não cobre todas as suas despesas, de acordo com o primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade, divulgado esta quarta-feira.

O relatório do estudo realizado pela empresa Ipsos referiu que a situação dos trabalhadores europeus é "muito preocupante, especialmente em Portugal e na Sérvia".


"Ter um emprego não significa necessariamente ser capaz de sobreviver financeiramente", escreveu num comunicado o autor do estudo, Etienne Mercier, sublinhando que esta situação afeta mais de um terço (36%) dos trabalhadores europeus.

O estudo, encomendado pela organização não governamental francesa Secours Populaire Français, ouviu 10 mil indivíduos, com 18 anos ou mais, em 10 países (Alemanha, França, Grécia, Itália, Polónia, Reino Unido, Moldávia, Portugal, Roménia e Sérvia).

Quase três em cada dez europeus, incluindo 49% dos gregos disseram que se encontram numa situação precária, o que os leva a renunciar a certas necessidades, como comer o suficiente ou aquecer as suas casas, alertou o barómetro.

1.9.23

Um dia disseram-me: tens uma cara que disfarça a pobreza de onde vens

Luís Osório, opinião, in TSF


1.

A notícia mais importante desta semana não teve grande repercussão mediática.

As caixas de comentários dos media não se encheram com opiniões, indignações, observações sábias ou ignorâncias atrevidas.


Mas a notícia era decisiva e ideológica.

Ideológica por que a existir uma diferença entre esquerda e direita esta se faz da procura de uma ideia de "Igualdade".

Igualdade de oportunidades.
Igualdade no acesso à informação.
Igualdade até no modo como o Estado pode potenciar o sonho, a ambição, a vontade de ser mais e de conquistar objetivos por mais longínquos que pareçam.


2.

Ser pobre não é apenas um problema de sobrevivência diário. Não é apenas ir para a cama com o frigorífico vazio ou acordar sem saber o que o dia oferecerá.

Ser pobre é estar condenado a subir montanhas toda a vida.

Ser pobre é não ter condições para que os filhos possam ter bons resultados, mesmo que sejam brilhantes, mesmo que desejem agarrar o mundo e fazê-lo seu.

Ser pobre é não poder ter livros em casa, é não poder pagar explicações - sabendo que nos melhores cursos as entradas para a universidade se definem às décimas.

Ser pobre é não ter um lugar para estudar, não saber o que é o silêncio, é acordar de madrugada para apanhar os transportes e chegar à escola com a cabeça adormecida.

Ser pobre é morar em casas sem condições, dormir em camas com dois e três, acordar com o som de madrugadas violentas e viver todos os dias com o peso de que o importante é "fazer-se à vida".


3.

Por isso, vieram-me as lágrimas aos olhos com a notícia.

"O novo contingente fez duplicar o acesso ao ensino superior de alunos muito pobres", alunos do Escalão A, filhos de famílias que precisam do Estado para comer e para o mais básico dos básicos. Filhos de famílias que ganham menos de 3 mil euros por ano, miúdos sem dinheiro para comprar roupa.

Uma notícia maravilhosa.
2800 alunos e alunas muito pobres puderam entrar no Ensino Superior.

E sabem uma coisa?
A diferença não é grande entre esses quase 3 mil e os que entraram no contingente normal.

Alguns entrariam de qualquer maneira, mesmo em medicina. Houve alunos muito pobres a entrar com médias superiores a 18.

Outros não entrariam sem este incentivo, mas desenganem-se os que eventualmente acham que as suas notas foram muito abaixo da média dos que entraram.

Não, não foram.
Menos três ou quatro décimas, nos piores casos.


4.

Nasci de duas famílias, mas vivi sempre com a minha mãe e avó materna. Uma família pobre.

Eu era um privilegiado, tinha acesso a livros e sabia o que era viver bem, ouvir música, ter espuma no banho de imersão e provar comidinha boa. Sabia-o pela casa do meu pai e da minha tia paterna.

Não me posso queixar.

Mas ainda assim não tinha as condições para atingir os resultados dos meus amigos no Liceu Pedro Nunes, o lugar onde fui, ainda assim, mais feliz.

Tentava disfarçar as roupas gastas, comia sandes de mortadela por custarem sete e quinhentos. E tinha uma lábia tão grande que pus os ricos a comer mortadela por tê-los convencido de que eram bem melhores do que as de queijo.

Eles podiam ter o que eu não podia.
E nos círculos mais elitistas era olhado de lado porque não pertencia ali - podia ler e escrever bem, podia ser esperto e retórico, podia ser um bom desportista, alto e com aspeto de "beto", mas faziam-me sentir que não era dali, que estava emprestado ali, que por mais que me esforçasse, por mais que fosse brilhante, nunca sairia da casa pobre onde estava condenado a viver para todo o sempre.

Impossível esquecer a conversa com uma "amiga" rica. Lembro-me de ela, visivelmente espantada, me dizer, à laia de elogio, que disfarçava bem a minha condição por ter uma carinha de príncipe. Que se eu quisesse podia levar muitas ao engano.

Que felicidade a notícia!

2800 miúdos pobres entraram na universidade.
Senti-me vingado por lhes poder dizer que ninguém está condenado a nada.

Que eles e elas são tão bons como os melhores.
Que eles e elas pertencem ao lugar onde quiserem pertencer.

31.8.23

“A que preço é que os pobres vão comer a sopa?” Inflação volta a aumentar em agosto para os 3,7%

in CNN

A inflação voltou a subir em agosto para os 3,7%, muito por causa dos combustíveis. A complicar as contas das famílias, a alimentação também sobe 6,5%.

30.8.23

Helena Canhão: "A pobreza também tem consequências na Saúde"

Maria João Martins,  in Observador


Pela primeira vez nas Conferências do Estoril, os temas de Saúde ganham protagonismo. Helena Canhão, diretora da Nova Medical School, explica que os problemas emergentes do mundo se ligam à Saúde.


Tem da Medicina uma visão abrangente, que a põe em relação com as ciências sociais e humanas, com a política e com a comunicação. Helena Canhão, diretora da Nova Medical School, professora catedrática de Medicina, é ela própria uma boa comunicadora, que, em poucos minutos, conta a história fascinante da sua escola, até há bem pouco tempo designada Faculdade de Ciências Médicas. Uma história que inclui o Vasquinho da Anatomia a confundir os mestres com o esternocleidomastoideo, no filme “A Canção de Lisboa”. Mas, tal como é ciosa deste passado, Helena Canhão encara com o mesmo entusiasmo os desafios que o futuro coloca às profissões na área da Saúde. Especializada em Reumatologia, é também dirigente e responsável médica pela Patient Innovation, organismo que premeia as iniciativas inovadoras em benefício de doentes e cuidadores, como se verá durante esta 8a.ª edição das Conferências do Estoril.


O que levou a Nova Medical School a associar-se às Conferências do Estoril? Na verdade, estamos habituados a que as questões relacionadas com a saúde sejam tratadas em congressos médicos, com pouca relação com a economia, a política ou as artes, como aqui parece ser o objetivo.
Antes de mais, a localização. Na verdade, ainda estamos em Lisboa, no edifício onde sempre estivemos, mas esperamos mudar-nos em breve para Carcavelos, onde ficaremos junto ao campus da Nova SBE. Mas, claro, também é muito importante o facto de estas Conferências serem muito reconhecidas nacional e internacionalmente. Em meu entender, este ano ainda faz mais sentido promovermos esta associação porque o tema é a reumanização da sociedade — e isso tem tudo a ver com a área da saúde. Surgimos, pois, como parceiros naturais destas Conferências. Temos de ter em conta que problemas emergentes, como a pobreza e a desigualdade social, têm também consequências ao nível da Saúde.


Mas esses aspetos são geralmente tratados pelas ciências sociais ou pela política…
Sim, mas as condições em que as populações vivem não são indiferentes para a saúde. O mesmo acontece com as alterações climáticas. As pessoas estão efetivamente a morrer de frio e de calor, há dados estatísticos que o comprovam. As epidemias, as pandemias, a resistência a antibióticos — são todos fenómenos novos. Não podemos continuar a trabalhar estes temas em caixinhas demasiado técnicas.
“As pessoas conseguem viver hoje com doenças que antes eram letais”

Outro tema relevante é o do envelhecimento. Pela primeira vez na História da humanidade, temos alguns milhões de pessoas, em todo o mundo, a atingir uma idade avançada. É um exemplo de um tema social com as tais implicações na Saúde?

É um tema da maior relevância. As pessoas conseguem viver hoje com doenças que antes eram letais e vivem realmente mais tempo, mas temos que estar atentos à sua qualidade de vida. Há uma série de novos problemas que têm de ser equacionados e que nem sequer existiam até aqui. Por outro lado, estas Conferências também estarão muito atentas aos jovens e às questões relacionadas e colocadas pelas novas tecnologias. Queremos lançar pistas e debater o modo como os profissionais de Saúde do futuro vão tratar do mundo, recorrendo precisamente a essas novas ferramentas, tão diferentes das tradicionais, mas sem abdicar da humanização. No fundo, importa perceber como é que vamos ser cada vez melhores educadores, melhores comunicadores ou cuidadores.


Há muito interesse por parte dos estudantes pelas Conferências?
Sim, neste momento em que falamos já temos quase três mil inscritos. Umas largas centenas são estudantes. No caso dos nossos, há várias formas de participação possíveis: alguns integram as equipas médicas que prestam apoio, no local, às Conferências, outros estarão na plateia a lançar perguntas aos convidados. Mas também temos outros no apoio à organização. Isto para além dos muitos que se inscreveram para assistir.
“Espero que nos sintamos inspirados”

Na área da Saúde quais foram os critérios para a escolha dos convidados? Para já temos dois Prémios Nobel…
Procuramos escolher os melhores nas suas áreas, claro, mas também pessoas que sejam boas comunicadoras e que sejam capazes de falar para a comunidade. Por outro lado, procuramos integrar no programa momentos para quebrar o gelo. Temos médicos que fazem performances e que são também músicos. Por outro lado, também vamos ter os prémios da Patient Innovation, que já têm alguns anos e que são um projeto meu e do Professor Pedro Oliveira, ainda antes de sermos ambos diretores das nossas escolas. É um projeto relacionado justamente com as questões da qualidade de vida.

Este prémio tem três vertentes…
Sim, por um lado, distinguimos doentes que trabalham modos de se integrarem melhor na sociedade, não deixando que a doença se torne um estigma ou um modo de isolamento. Também temos prémios para cuidadores ou para colaboradores de empresas que encontram um modo de ajudar uma pessoa com um problema específico.

Vamos imaginar que não está envolvida na organização. Como professora, o que gostaria de encontrar nestas Conferências?
Penso que o ambiente em si é logo muito inspirador. Por isso, o que espero é que, no regresso de férias, possamos sentir-nos mais determinados a introduzir fatores de mudança nas nossas vidas, que possamos perceber como é que podemos sentir-nos mais saudáveis e, logo, tornar o mundo melhor. Por isso, o que espero é que nos sintamos inspirados, ao mesmo tempo que aprendemos muito sobre temas de importância vital para o nosso futuro.

Este artigo faz parte de uma série sobre as Conferências do Estoril, evento de que o Observador é media partner.Resulta de uma parceria com a Nova Medical School, Nova School of Business and Economics e a Câmara Municipal de Cascais. É um conteúdo editorial independente


29.8.23

Cerca de 600 mil portugueses vivem em situação de pobreza energética severa

in SIC

O elevado preço da energia impede o acesso ao conforto mínimo. Por isso, nos meios rurais a lenha é o recurso mais acessível, embora não tenha a mesma eficiência de outros sistemas de aquecimento.


Mais de dois milhões de portugueses vivem em condição de pobreza energética, dos quais 600 mil em situação severa sem dinheiro para aquecer a casa no inverno ou arrefecê-la no verão. A situação é mais difícil para quem vive em regiões com grandes amplitudes térmicas, como é o caso de Bragança.

Habitações sem eficiência energética, salários baixos e preços da energia elevados estão na origem de uma grande percentagem de portugueses a viveram em situação de pobreza energética.

A sofrer de excesso de frio ou de calor na sua própria casa estão mais de dois milhões de pessoas. A situação é recorrente em todo o país, mas agrava-se em regiões como Bragança.
Lenha é o recurso mais utilizado nos meios rurais

O elevado preço da energia impede o acesso ao conforto mínimo. Por isso, nos meios rurais a lenha é o recurso mais acessível, embora não tenha a mesma eficiência de outros sistemas de aquecimento.

Pouco mais de 13% das habitações possuem aquecimento central. Os baixos rendimentos da maioria das famílias refletem-se no deficiente estado de conservação de muitos edifícios, uma realidade que também não ajuda a garantir o conforto mínimo habitacional.

28.8.23

30 MILHÕES TRANSFORMAM QUINTA DO LORDE

Carla Sousa, in JM Madeira

No primeiro semestre de 2024, o antigo resort do Caniçal dará lugar ao hotel ‘Dreams Madeira’. A remodelação significou um investimento de 30 milhões de euros e a unidade, que vai funcionar num regime de tudo incluído, ficará ligada à cadeia hoteleira internacional Hyatt. Terá 360 quartos, 12 espaços de restauração e vai empregar 250 pessoas.

Esta é a notícia que faz a manchete de hoje do seu JM, numa Primeira Página que destaca um triste realidade. “Dinheiro não basta para sair da pobreza”. A pobreza tem várias causasm na opinião de Agostinho Moreira, da rede europeia anti-pobreza, que diz ser prioritário “atuar na família em primeiro lugar”. Sílvia Ferreira, do CASA, mostra preocupação com a falta de habitação e a toxicodependência.

Saiba ainda que “é fácil ser chef, ser bom cozinheiro é mais difícil”. Comunica como poucos e cozinha de forma distinta. Octávio Freitas, convidado de ontem da iniciativa do JM e do Centro Comercial La Vie, confessa ser chef por “vocação”.

Destaque também nesta edição para o turismo: 152 mil euros asseguram a Festa do Vinho Madeira, e para o despovoamento que preocupa em São Vicente. Autarcas entendem que a fixação dos residentes “deve ser uma preocupação coletiva”. Albuquerque considera que “o município está à altura do desafio”.

21.8.23

Barrancos criou proprama de apoios sociais pontuais para a população

in Rádio Voz da Planície

O Município de Barrancos justifica a criação deste programa com a inexistência, no concelho, de qualquer instrumento financeiro que “o autorize, no âmbito da ação e solidariedade social, a prestar apoio a indivíduos ou a famílias em situação de vulnerabilidade socioeconómica de natureza pontual ou extraordinária”.


A Câmara de Barrancos criou assim um programa de apoios sociais de natureza pontual. O programa entrou em vigor no passado dia 1 e para quem precisa de mais informações pode dirigir-se aos serviços sociais da Câmara de Barrancos.

Esta iniciativa da Câmara prevê a atribuição de apoio alimentar; a comparticipação total ou parcial de dívida de água, luz, gás e renda de casa; atribuição de apoio económico eventual; comparticipação total ou parcial de medicação e na deslocação a serviços de saúde ou reabilitação, entre outros.

9.8.23

Conheça a história do casal de Viana do Castelo que vive num barracão em extrema pobreza. Veja agora na CMTV

Paulo Jorge Duarte, in CM

Sem dinheiro para arrendar uma casa, sobrevivem com a ajuda de quem se disponibiliza para ajudar.

Quem passar junto à praia do Castelo Velho, em Viana do castelo, dificilmente se apercebe da vida de sofrimento de Carlos Gomes e da mulher. O casal vive num barracão para guardar alfaias agrícolas. Com vista para o mar, mas nem por isso numa vida digna de seres humanos, em pleno século 21, um conjunto de infelicidades atirou este homem e esta mulher para a cauda do limiar da extrema pobreza.

4.8.23

Papa pede a instituições de caridade que não tenham nojo da pobreza

 in DN

O quarto dia da Jornada Mundial da Juventude é marcada pela participação do Papa Francisco, como peregrino, na Via-Sacra, em Lisboa.

O Papa Francisco pediu hoje a responsáveis de instituições sócio-caritativas da Igreja que se questionem se têm nojo da pobreza, desafiando-os a sujar as mãos.

"Tenho nojo da pobreza, da pobreza dos outros?", perguntou Francisco, no encontro com representantes de centros de assistência sócio-caritativa, no Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, na Serafina, em Lisboa, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Improvisando na intervenção, feita em espanhol, o líder da Igreja Católica salientou a importância de concretizar a ação caritativa.

"Não há amor abstrato, não existe. O amor platónico está na órbita, não está na realidade", referiu, para destacar o "amor concreto, esse que suja as mãos".

Francisco perguntou mesmo se, quando dão a mão a uma pessoa necessitada, doente ou marginal, a lavam de seguida, para não ficarem contagiadas.

O líder da Igreja Católica criticou depois as "vidas destiladas e inúteis que passam pela vida sem deixar marca, porque a sua vida não tem peso".

"Mas aqui temos uma realidade que deixa marca, uma realidade de tantos anos, de tantos anos" que deixa inspiração, declarou, considerando que não poderia existir uma JMJ "sem ter em conta esta realidade".

Segundo Francisco, "isto também é juventude no sentido em que gera vida nova continuamente", pois ao sujarem as mãos com a miséria dos outros, os responsáveis estão a gerar inspiração e vida.

Agradecendo o trabalho das instituições sócio-caritativas da Igreja, pediu que sigam em frente e não desanimem.

"E se desanimarem, tomem um copo de água e sigam em frente", acrescentou, provocando uma gargalhada na assistência.

Lusa

3.8.23

Crise da habitação em Portugal chega ao The Guardian que fala em "loucura"

in DN

Os problemas assinalados pelo The Guardian que levaram ao estado atual do país incluem os nómadas digitais, os vistos gold e os Airbnbs.


O mercado imobiliário passou por uma distorção e ficou "irreconhecível", num país onde o salário mínimo mensal é de 760 euros e onde 50% das pessoas ganham menos de 1000 euros por mês. Os nómadas digitais, os vistos gold e os Airbnbs são dos problemas que levaram ao estado atual do país.


Quem o diz é o jornal britânico The Guardian, num artigo em que se ataca o Governo de António Costa pelas tentativas de atrair o investimento estrangeiro mas com isso distorcer o mercado imobiliário português. Esta segunda-feira, este é um dos 10 artigos mais lidos do jornal britânico.

Segundo o The Guardian, a ONU alertou há seis anos que a "turistificação desenfreada" prejudicaria o direito à habitação dos portugueses mais vulneráveis e previu que a degradação da habitação e das condições de vida provocaria o surgimento de "novos pobres".

"A situação é uma loucura", afirmou Agustín Cocola-Gant, investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, descrevendo o impacto da disparidade entre salários como transversal. "Isso afeta a todos agora - não apenas a população vulnerável".

Já a ativista e investigadora Rita Silva afirma no artigo que a crise está a servir apenas para aumentar as desigualdades existentes. "Os médicos não estão a vir para as grandes cidades, onde são muito necessários, porque não conseguem pagar o alojamento", disse.

"O mercado descontextualizou-se na medida em que já não está virado para quem vive e trabalha em Portugal. É um mercado que, por meio das políticas do governo, está voltado para o investimento estrangeiro."


Os dois investigadores afirmam ao jornal inglês que a pressa de tirar Portugal da crise financeira e colocar o país no mapa de investimentos globais levou diretamente à situação atual.

Os nómadas digitais são parte do problema. Estes são estrangeiros que trabalham remotamente e conseguem obter vistos em Portugal, se cumprirem os requisitos, incluindo ganhos mensais de mais de 3.040 euros. Segundo a Nomad List, neste momento existem cerca de 15.200 nómadas digitais em Lisboa.

"Eles são uma população privilegiada que se aproveita dessa desigualdade global e basicamente vêm aqui para gentrificar e pressionar ainda mais o mercado imobiliário", disse Cocola-Gant.

1.8.23

“Estigmatizamos a pobreza e não quebramos o ciclo entre gerações” – Entrevista a Maria Joaquina Madeira, EAPN

in AMI

“O que ninguém quer falar sobre a pobreza”, desde os ciclos de vida repetidos de pais para filhos, à exclusão do contrato social, porque “quem vive na pobreza nada pode dar” é o que Maria Joaquina Madeira, vice-presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza e impulsionadora da implementação do Rendimento Social de Inserção em Portugal afirma ser necessário colocar abertamente no debate público “sem eufemismos. Ainda estigmatizamos a pobreza e não quebramos o ciclo entre gerações. Maria Joaquina Madeira, vice-presidente Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN).

Que metas não foram alcançadas com o Rendimento Social de Inserção?

O Rendimento Social de Inserção [RSI] devia ser uma ferramenta eficaz na luta contra a pobreza, no entanto, ficou aquém do objetivo.

O RSI tinha como meta dar mais capacidade às pessoas na aquisição de bens e serviços, para viverem com mais dignidade, mas tornou-se insuficiente. Não podemos esquecer que grande parte dos beneficiários de RSI são idosos, doentes crónicos ou crianças. Beneficiários que não representam população ativa.

O RSI é insuficiente só pelo valor ou porque faltam políticas públicas complementares?

Hoje fala-se em mínimos adequados para ter uma vida digna, de acordo com recomendações europeias.

A sociedade caminha para outro patamar de rendimentos e a perspetiva é de que o RSI se mantenha apenas para as situações mais críticas. A meta agora passa por alcançar níveis de rendimento que vão ao encontro das despesas base das pessoas, para que reúnam condições de vida mais dignas.

Somos uma sociedade alimentada economicamente de forma desigual e por conveniência?

O melhor que pode acontecer a uma organização humanitária como a EAPN ou a AMI é deixar de ser necessária, afinal, elas trabalham para o seu fim e esse seria o mundo perfeito. Mas, a vida em sociedade é um contrato, damos para recebermos. As pessoas em situação de pobreza não entram no contrato social porque não têm nada para dar em termos de impostos e poder de compra.

É preciso colocar no debate público o que ninguém quer falar sobre a pobreza e fazê-lo sem eufemismos. A verdade é que ainda estigmatizamos a pobreza e mantemos um ciclo difícil de quebrar entre gerações.

O conceito de aporofobia criado pela filósofa Adela Cortina traduz-se como medo do pobre numa sociedade que estigmatiza a pobreza. Do estigma da pobreza nascem nichos de precariedade alimentar e habitacional e oportunidades para situações de vida à margem da lei, com vista a obter rendimentos ou ascensão social de forma rápida.

É bom ter essa palavra, apesar de pesada, porque ela concretiza o problema e a sociedade pode usar a palavra aporofobia como missão para erradicar a pobreza e não alimentar preconceitos.

Porque não se consegue quebrar a necessidade de assistência financeira ou alimentar?

Falha sobretudo a questão dos salários dignos. Temos salários insuficientes que comprometem toda a vida das pessoas, mas a pobreza não se esgota só na dimensão económica. A pobreza é multidisciplinar e complexa. Têm que se ter em conta todas as dimensões no processo de transformação e empoderamento das pessoas.

A falta de condições económicas prejudica o acesso à educação de qualidade, e, consequentemente, a uma profissão e trabalho digno.

Temos evoluído, no século XX usava-se mais o nome “pobre” do que o conceito “pobreza”. A responsabilidade de ser pobre era da própria pessoa, como se tivesse culpa. Hoje trabalhamos sobre todas as dimensões do conceito “pobreza”, desde a geográfica, à económica, saúde, educação ou acesso à cultura e lazer.

O salário mínimo nacional de hoje limita o futuro das próximas gerações?

É uma questão cultural. Temos uma população ativa de quatro milhões, há ainda muitas pessoas que por condição da sua vida, idade ou outro fator, não tem direito ao trabalho. Mais de 500 mil pessoas que trabalham e são pobres, a maior parte com família e crianças a seu cargo. Temos uma taxa de pobreza nas crianças demasiado elevada porquê? Porque os seus pais são pobres.

Pais pobres, filhos pobres?

Ainda há um ciclo de pobreza. Um aprisionamento das pessoas num ciclo de privações. A neurociência estuda os compromissos que a pobreza gera ao nível do desenvolvimento físico, mental, psicológico e social.

Quando as pessoas ficam extremamente comprometidas com ajudas materiais e afetivas mútuas ao longo da vida, a autonomia fica em causa e podem gerar outras famílias empobrecidas. O estado de privação é uma herança terrível.

Por isso afirma que “agora o trabalho das instituições e do Estado é feito com a pobreza e não com os pobres”?

Há algumas décadas o Estado e a sociedade não viam a pobreza como um problema deles. O problema era das pessoas e elas tinham que adaptar-se à vida.

Atrasado em relação à Europa, no pós-25 de abril, com a adesão à CEE [Comunidade Económica Europeia], Portugal assumiu um conceito que já circulava em outros países, o dos direitos sociais. A pobreza afinal existia porque a sociedade não garantia condições mínimas para uma vida digna.

O Estado assumiu a pobreza como um problema público e começámos a falar de integração. Vivemos um momento de empoderamento. Mas, ainda temos uma sociedade profundamente desigual e todos os dias infringimos direitos humanos.

Que políticas públicas podem quebrar o ciclo?

A Agenda do Trabalho Digno vai muito além do trabalho a nível remuneratório. Incide também sobre a precariedade e relação trabalho família. Uma agenda forte que vai ser uma política angular na transformação das condições de vida de muitos portugueses.

Depois, a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza incide precisamente sobre a questão da pobreza nas crianças.

Tudo isto se enquadra na recomendação europeia: pilar dos direitos sociais.

As políticas públicas estão no terreno, mas, continuamos sem conseguir implementar o idealizado, a começar pelo trabalho.

Há uma certa desvalorização do acompanhamento e avaliação das políticas públicas implementadas. Fazem-se as políticas, as leis, executam-se e depois não se avalia o impacto.

A grande novidade é que as novas estratégias estão submetidas a um sistema de avaliação do desempenho e do impacto na vida das pessoas.

Entramos numa nova Era e estou convicta de que tudo vai ser diferente, embora só consigamos ver resultados daqui a dois ou três anos.