3.8.23

Crise da habitação em Portugal chega ao The Guardian que fala em "loucura"

in DN

Os problemas assinalados pelo The Guardian que levaram ao estado atual do país incluem os nómadas digitais, os vistos gold e os Airbnbs.


O mercado imobiliário passou por uma distorção e ficou "irreconhecível", num país onde o salário mínimo mensal é de 760 euros e onde 50% das pessoas ganham menos de 1000 euros por mês. Os nómadas digitais, os vistos gold e os Airbnbs são dos problemas que levaram ao estado atual do país.


Quem o diz é o jornal britânico The Guardian, num artigo em que se ataca o Governo de António Costa pelas tentativas de atrair o investimento estrangeiro mas com isso distorcer o mercado imobiliário português. Esta segunda-feira, este é um dos 10 artigos mais lidos do jornal britânico.

Segundo o The Guardian, a ONU alertou há seis anos que a "turistificação desenfreada" prejudicaria o direito à habitação dos portugueses mais vulneráveis e previu que a degradação da habitação e das condições de vida provocaria o surgimento de "novos pobres".

"A situação é uma loucura", afirmou Agustín Cocola-Gant, investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, descrevendo o impacto da disparidade entre salários como transversal. "Isso afeta a todos agora - não apenas a população vulnerável".

Já a ativista e investigadora Rita Silva afirma no artigo que a crise está a servir apenas para aumentar as desigualdades existentes. "Os médicos não estão a vir para as grandes cidades, onde são muito necessários, porque não conseguem pagar o alojamento", disse.

"O mercado descontextualizou-se na medida em que já não está virado para quem vive e trabalha em Portugal. É um mercado que, por meio das políticas do governo, está voltado para o investimento estrangeiro."


Os dois investigadores afirmam ao jornal inglês que a pressa de tirar Portugal da crise financeira e colocar o país no mapa de investimentos globais levou diretamente à situação atual.

Os nómadas digitais são parte do problema. Estes são estrangeiros que trabalham remotamente e conseguem obter vistos em Portugal, se cumprirem os requisitos, incluindo ganhos mensais de mais de 3.040 euros. Segundo a Nomad List, neste momento existem cerca de 15.200 nómadas digitais em Lisboa.

"Eles são uma população privilegiada que se aproveita dessa desigualdade global e basicamente vêm aqui para gentrificar e pressionar ainda mais o mercado imobiliário", disse Cocola-Gant.