28.8.23

Planear a reforma

André Rito, in Expresso

O Governo tem em mãos um projeto para reduzir o impacto da passagem à reforma na vida da população acima dos 65 anos. O objetivo é claro: promover o envelhecimento ativo apostando numa transição mais suave para a vida inativa. Embora ainda sem moldes definidos, o secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, afirmou ao Expresso que o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social está a dialogar com as empresas no sentido de valorizar a experiência dos trabalhadores mais antigos. Entre outras medidas, a aposta passa por reduzir o horário, adaptação dos postos de trabalho e alteração do perfil das próprias funções.

Em Portugal, estima-se que as taxas de substituição - diferença entre o último salário e a primeira pensão de reforma - possam, a médio prazo, rondar uma perda na ordem dos 50 por cento. Além da quebra dos rendimentos, a reforma está também muitas vezes associada a uma vida mais sedentária, com degeneração cognitiva e outros problemas que o fim da vida ativa pode implicar. É por essa razão que continuar a trabalhar pode trazer vantagens na saúde mas também na conta bancária. Há, no entanto, cuidados a ter quando se adia a reforma.

Continuar a trabalhar exige planeamento e múltiplas precauções. Uma delas, defendeu ao Expresso Filomena Oliveira, da FSO Consultores, passa por não trabalhar muito mais do que um a dois anos para lá da idade da reforma. A razão? O trabalhador deixa de acumular bonificações. As variáveis são muitas pelo que é importante fazer contas certas. Até porque financeiramente nem sempre compensa adiar o fim do trabalho. Recentemente, o Expresso publicou uma série de artigos sobre o assunto, com dicas para planear a reforma. Para ler aqui , aqui e aqui.


Em Portugal, tal como nos restantes países mais envelhecidos do mundo, não é fácil encontrar trabalho depois dos 50 anos. E se existem empreendedores seniores - como o caso que de Blanca Silva, que aos 53 anos lançou um negócio de café -, também é verdade que o primeiro emprego pode representar uma enorme barreira no acesso ao mercado de trabalho. Nas palavras da consultora norte-americana radicada em Portugal, Sheila Callaham, além de um preconceito relativo ao trabalho dos mais velhos, “há um sweet spot no meio da pirâmide etária”. “As extremidades são as mais sacrificadas, excluídas, porque também os mais novos, saídos da universidade, sem experiência, têm muitas dificuldades em entrar no mercado.

Para contribuir para mudar este cenário, a associação sem fins lucrativos dNovo criou um projeto de apoio no acesso ao trabalho, que assenta em três pilares: mentoria, networking e capacitação. “Pessoas com 50 anos e com profissões relevantes e formação superior, com boas competências, têm de voltar ao mercado de trabalho. É um desperdício de talento não aproveitar estas pessoas”, realçou Vera Norte, assessora da dNovo, ao Expresso.

Os números são reveladores: na faixa etária entre os 45 e os 64 anos de idade, cerca de 83 mil pessoas com qualificação superior estavam sem trabalho em 2021 – 77% das quais desistiram de o procurar. Problema? Muitos ainda têm pelo menos 16 anos até chegar à idade da reforma. Agora, uma equipa multidisciplinar composta por investigadores, pessoas ligadas à tecnologia e aos recursos humanos, a ONG dNovo começou finalmente a entrar nas empresas.

Tudo com o objetivo de combater o idadismo - preconceito em relação à idade. A nível global, uma em cada duas pessoas tem atitudes discriminatórias em relação aos mais velhos e, na Europa, uma em cada três diz ter sido vítima de discriminação com base na idade.Estas são as conclusões de um relatório sobre o idadismo – um conceito enraizado na sociedade, embora muitos não o conheçam –, publicado no ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).