28.8.23

Produtores de gado reduzem animais para fazer face à crise

Glória Lopes, in JN

A subida dos custos de produção deixou os produtores de gado transmontanos numa situação aflitiva e muitos estão a reduzir o número de animais nas explorações para aguentar a crise.


O aumento dos preços da alimentação, decorrentes da carência no mercado e de dois anos de seca, criaram problemas transversais a todas as raças, principalmente as autóctones, como a de bovinos de raça Mirandela, a de ovinos Churra da Terra Quente e a Cabra Serrana, entre outras.


No caso dos bovinos de raça Mirandesa muitos criadores já começaram a vender animais, para baixar o efetivo nas explorações. “Dois anos maus, com seca e de má produção de forragens, deixou os produtores de gado com problemas. Este ano não há falta de água para os animais beberem, mas devido à seca as forragens não cresceram, porque as sementeiras de outono e inverno tiveram um ano mau”, explicou Válter Raposo, secretário técnico da Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa.

O preço da palha este ano está a cerca de 20 cêntimos/fardo quando nos anos anteriores era vendida a quatro ou cinco cêntimos. Ainda assim, há produtores que já comparam palha a 80 cêntimos o fardo. “Não há onde comprar porque os principais fornecedores são espanhóis e não tem stock, pois também tiveram maus anos agrícolas”, acrescentou Válter Raposo.


Os criadores pedem mais ajudas à produção. “Com a mudança do Quadro Comunitário de Apoio as ajudas pouco aumentaram. Só subiram 10 euros nas agroambientais, que nem paga os custos de produção”, deu conta o secretário técnico da associação.

A redução do efetivo põe em causa a raça autóctone que ainda é considerada em risco de extinção. “O efetivo andava na casa dos cinco mil, mas já reduziu bastante. Os criadores optaram por retirar animais. Nestes últimos dois anos tem havido pouca recria e o efetivo tem diminuído. Em vez de um produtor ter 60 animais passou a ter 40”, referiu Válter Raposo.


O cenário pode agravar-se porque nos últimos dois meses os criadores têm contado com as forragens da campanha agrícola deste ano e que deviam ser para consumo no inverno. “Ficam sem armazenamento para o tempo frio”, observou o responsável.


Os agricultores dizem que a carne de bovinos de raça Mirandesa se vende bem, mas que o preço é baixo face aos gastos para a produzir. “Seria necessário que o preço da carne subisse. Neste momento os agricultores estão em grandes dificuldades porque gastam muito para criar os animais”, admitiu Licínio Martins, produtor de gado.


Também na Terra Quente os pastores estão a optar por ter menos ovelhas. Prevê-se que esta raça perca 15% do efetivo a curto prazo. Atualmente conta com cerca de 11.800 fêmeas. “Esta raça autóctone alimenta-se nas pastagens, mas por causa da seca há menos alimento”, referiu uma fonte da Associação Nacional de Criadores de Ovino de Raça Churra da Terra Quente (ANCOTEQ), em Torre de Moncorvo.

A falta de pastos obriga os pastores a comprar forragens, o que representa mais um encargo nas explorações.