27.9.23

Um terço dos jovens não tem habitação estável

Alexandra Inácio, in JN

Mais de metade dos que vivem em situação precária não conseguem arrendar casa ou ter acesso a crédito. 49% culpam mais os baixos salários do que a inflação ou a falta de ofertapela crise na habitação.


Mais de um terço dos jovens (36%) e um terço dos adultos (33%), entre os 35 e 49 anos, não têm habitação estável. A maioria porque não consegue aceder ao crédito ou pagar os valores de renda pedidos no mercado. Na sondagem feita pela Aximage para o JN, DN e TSF, quase metade dos portugueses culpa os baixos salários e não a inflação ou a especulação imobiliária pela crise na habitação.


Do quarto da população que não tem uma situação de habitação estável, 36% respondem que não conseguem arrendar por causa dos preços, 16% não têm acesso a crédito, 15% pagam a renda com dificuldade, 13% já recorreram a pais e amigos para pagar as prestações ao banco, 7% já admitiram entregar a casa e outros 7% já tiveram de partilhar o alojamento com familiares ou terceiros. Neste grupo com situação habitacional precária, 41% dizem que procuram casa há mais de um ano.


Para 90% dos portugueses a crise na habitação é grave ou “muito grave” (57%), especialmente para os mais jovens dos 18 aos 34 anos (60%) e adultos entre os 35 e 49 anos (62%).


Em risco de ir para a rua

Quase metade (49%) aponta os baixos salários como fator a contribuir para a crise. Mais do que o preço das rendas (36%), a inflação (31%) ou a pouca oferta no mercado (11%).

Em julho, de acordo com um estudo da agência Century 21 Portugal, a renda média em Lisboa superou os 1400 euros e quase atingiu o salário médio bruto pago em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, no segundo trimestre do ano: 1539 euros.


O valor médio do metro quadrado para compra de casa só é inferior ao de Paris, de acordo com a plataforma de dados europeus imobiliários Casafari. E a bitola da capital serve para subir os preços no resto do país.

É uma bomba-relógio. Para dia 30 está agendada nova marcha pela habitação em diversas cidades no país como Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Aveiro e Faro.


Ontem, a Associação dos Inquilinos e Condóminos do Norte de Portugal pediu medidas urgentes ao Governo para ajudar as famílias que “estão em risco de acabar na rua por não poderem pagar a casa”.

Já a Associação dos Inquilinos Lisbonenses alerta para uma situação “insustentável”. “O mercado da habitação está já com preços totalmente incomportáveis para a generalidade das famílias”, frisou António Machado, assegurando que para muitos agregados a taxa de esforço já é superior a 50%. A ministra da Habitação reuniu esta semana com representantes dos inquilinos e proprietários, prometendo avaliar as propostas apresentadas pelas várias entidades sobre a atualização das rendas para 2024 e tomar uma “decisão equilibrada”.


A maioria PS voltou anteontem a aprovar, no Parlamento, sem alterações, o pacote Mais Habitação, depois do veto do presidente da República em agosto. A Oposição entregou mais de 320 propostas de alteração, todas chumbadas.

As críticas ao programa não se cingem aos partidos, inquilinos, proprietários. Também os autarcas contestam algumas medidas.


Entre as medidas mais contestadas destaca-se a suspensão do registo de novos alojamentos locais fora dos territórios de baixa densidade ou o arrendamento coercivo pelos municípios de imóveis devolutos há mais de dois anos.


O presidente dos autarcas do PSD, Hélder Sousa Silva, defende que o pacote “é uma mão cheia de nada” que não irá resolver a falta de casas no país.


MEDIDAS

Rendas em 2024

A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, ainda não revelou qual o valor da atualização das rendas em 2024.

Bonificação juros
O Governo aprovou o mecanismo para a famílias pedirem aos bancos uma prestação fixa, durante dois anos, por um valor mais baixo. O montante em dívida não é amortizado, sendo os acertos pagos daqui a quatro anos.