3.2.16

"A Europa não está a tirar proveito de ter diferentes culturas"

Marília Freitas, in "Rádio Renascença"

Especialista em inovação acredita que a crise dos refugiados pode ser uma grande oportunidade para impulsionar o crescimento europeu.

A crise dos refugiados pode ser, "sem dúvida", a grande oportunidade de a Europa inovar e crescer, defende Frans Johansson, especialista em inovação, criatividade e diversidade que estará esta terça-feira na Porto Business School Grand Conference, na Casa da Música.

O sueco, a viver actualmente em Nova Iorque, tem acompanhado as mudanças na opinião pública europeia relativamente aos refugiados. “Nos últimos meses, as conversas mudaram drasticamente na Suécia. Passámos de estar disponíveis a receber para o encerramento das fronteiras”, diz.

Para Frans Johansson, todas as discussões têm falhado o ponto principal. “O foco da crise dos refugiados tem sido sobretudo o custo e o medo. Na minha opinião, o problema não é deixar entrar mais ou menos refugiados. O problema é o que acontece às pessoas quando ficam no país e como é que tiramos vantagem das suas perspectivas e conhecimentos diferentes.”

O foco da discussão deve ser, por isso, a integração de pessoas de diferentes culturas e o seu relacionamento com o resto de sociedade para que seja possível “impulsionar novas ideias”. “Pode-se fazer muito mais se nos focarmos em estabelecer relações, em vez de nos preocuparmos se alguém deve ou não entrar”, diz à Renascença.

Frans acredita que as grandes ideias surgem quando se combinam diferentes culturas e áreas de conhecimento. Uma teoria à qual chamou “efeito de Medici”. Contudo, reconhece que a maior parte dos países europeus não tem tido essa capacidade.

“Se olharmos para a Europa hoje em dia, vemos um continente que tem pessoas de diferentes culturas, mas que não está a tirar proveito disso. Isso leva a que existam grupos separados, que não estão ligados ao resto da sociedade”, constata. “Isso não conduz à inovação nem à criatividade”.

Portugal “deve convidar o mundo”

Frans Johansson é consultor de empresas como a American Express, IBM, Metlife, Microsoft e a Volvo. É fundador e director executivo da consultora de estratégia e inovação The Medici Group.

O especialista está em Portugal para participar, esta terça-feira, na Porto Business School Grand Conference, que se realiza anualmente na Casa da Música.

Sabe que Portugal “enfrentou uma crise séria” e que “tem mais ou menos a mesma população que a Suécia”. Ainda assim, deixa um conselho aos líderes portugueses: “Portugal deve interagir mais com o mundo exterior, deve convidar o mundo para cá vir e deve encontrar o seu caminho para o mundo. Não se pode olhar só para dentro. Não há impostos, nem programas que possam captar a energia que se consegue com este tipo de visão”.