9.5.16

Mulheres dão passos importantes para a igualdade de género

Céu Neves, in Diário de Notícias

Carina (ao centro) é uma das 11 funcionárias do refeitório


Representantes da comunidade acreditam que os estudos são a chave para conquistar direitos na etnia e na sociedade maioritária

Tânia Rute Oliveira, 35 anos, estuda Animação Socioeducativa, funcionária da Câmara Municipal da Figueira da Foz onde é dinamizadora do Grupo de Ação Comunitário (GAC), é solteira e "boa rapariga". Perfil normal mas que numa cigana ainda suscita perguntas. "Não tem sido um percurso fácil, mas o meu objetivo sempre foi estudar. Surgiu esta oportunidade [o projeto Opré Chavalé] e aproveitei". É presidente da Ribalta Ambição, Associação para a Igualdade de Género das Comunidades Ciganas.

"O objetivo é promover a cultura das mulheres ciganas e a igualdade de género", explica a jovem universitária. Reconhece estarem "atrasados" em relação à população em geral, mas há mulheres que estão a fazer a sua própria revolução. Os pais "acharam um pouco estranhou mas aceitaram" e a irmã está a seguir os seus passos, entrando para o ano na faculdade.

Tirou o 4.º ano, depois o 9.º ano através do programa de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC e entrou para a universidade no programa Maiores de 23. Foi mediadora municipal seis anos, esteve na associação SOS Racismo, enfim, uma ativista. "As pessoas vão sempre dizer: "com esta idade e ainda não casaste?" Respondo que tenho outras prioridades. O caminho vai-se fazendo, mas o meu caso também prova que os ciganos podem escolher não casar. Tenho 35 anos e ninguém me obrigou a casar".

Também solteira e "boa rapariga", trabalhadora-estudante universitária, Cátia Montes, 29 anos, não decidiu casar e ter filhos. Mora em São Brás de Alportel, estuda na Universidade do Algarve, em Faro, e é bombeira voluntária há quatro anos. Tinha a escolaridade obrigatória - 9.º ano na sua época e que, em 2013 passou a ser o 12.º ano -, e entrou para Educação Social no Mais 23. Trabalha num supermercado, ninguém lhe perguntou a etnia. "O primeiro emprego foi mais difícil de conseguir, se calhar porque no segundo já me conheciam. Não disse que era cigana, também não me perguntaram, mas penso que desconfiaram pelos meus traços físicos". São Brás de Alportel é um meio pequeno e todos se conhecem, para o bem e para o mal. Para o bem porque quando se trabalham bem passam a palavra. Ela e três primos são os quatro ciganos empregados.

Não tem sido fácil a Cátia fazer a diferença na comunidade, a família não aceitou bem até porque foi quem "se desviou". São quatro irmãos e as irmãs e o irmão levam uma vida tradicional cigana. " Ainda vendi nas feiras e tinha jeito, mas quis estudar". Hoje vive a autónoma da família, sem esquecer as tradições e cultura ciganas, tal como Tânia. Acreditam que há quem aponte o dedo, mas também quem as veja como exemplos.

E o maior exemplo é o de Olga Mariano, presidente da Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas. Estudou e tirou a carta de condução quando as mulheres ciganas não o ousavam, diz que teve a sorte de viver numa família que apoiava a educação. Ela fez o resto, sendo uma das três formadoras municipais. Sem esquecer a tradição e cultura de origem. "Nunca!".