2.6.16

Bagão Felix: “Nem toda a gente está preparada para num dia ser ativo a 100% e no outro ser inativo a 100%”

In "Economia"

Existem 132,5 mil portugueses com mais de 70 anos ainda a trabalhar, o equivalente a quase 3% da população empregada

O tema do envelhecimento ativo chega esta quinta-feira ao Parlamento pelas mãos do CDS-PP, com quase duas dezenas de propostas, entre projetos de lei e projetos de resolução. Uma das propostas que tem mobilizado mais atenções é a reforma a tempo parcial, para indivíduos com mais de 65 anos.

Em entrevista ao “Jornal de Negócios”, Bagão Félix aparece como uma das vozes defensoras desta ideia, de forma a permitir uma “transição suave” para quem passa à reforma.

“É uma medida que há muito defendo. Nem toda a gente está preparada para num dia ser ativo a 100% e no outro ser inativo a 100%. Chamo a isso um efeito guilhotina na vida das pessoas. Um efeito eutanásia. As pessoas sentem-se pesadas, sentem-se a mais na família, na sociedade. Acham-se mais um fardo do que um contributo. A ideia de aterrar na fase pós-ativa com mais suavidade é muito positiva. Durante um ou dois anos as pessoas poderem trabalhar metade e, ao mesmo tempo, já terem a sua pensão pela metade”, defendeu.

Esta medida teria a vantagem de “não ser obrigatório, dando liberdade de opção” numa fase fundamental de mudança no seu modelo de vida e também traria benefícios para as entidades patronais. “Um jovem que entra, se calhar tem preparação técnica, mas não tem experiência. E os mais velhos têm a universidade da vida, já aprenderam com os erros. Essa conjugação entre uns e outros é uma forma de introduzir os jovens no trabalho”, diz.

Quanto à viabilidade económica desta medida, o ex-ministro de Durão Barroso simplifica a questão e faz uma proposta de como resolver o problema. “A Segurança Social [SS] teria a vantagem de nesse período só pagar 50% [da pensão]. Havendo instrumentos adequados, seria um instrumento atrativo. Teletrabalho, trabalho domiciliário… Os 50% [no trabalho] até poderiam ser isentos de contribuições para a SS, que já poupa por não pagar a totalidade da reforma. O próprio Estado, como patrão, devia estimular isso”, justificou.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), existem mais de 240 mil portugueses acima dos 65 anos que se mantêm a trabalhar, o equivalente a 5,2% da população empregada. E com mais de 70 anos há 132,5 mil pessoas ainda a trabalhar, quase 3% do total de ativos.