20.4.17

Jovens entre 13 e 16 anos do ensino regular são os que mais abandonam a escola

Carla Dias, in Correio dos Açores

Fabiola Cardoso (à esquerda), Mélia Amaral, Maria José Raposo e, à direita, Paula Dutra Borges No concelho da Ribeira Grande São os jovens de 13 aos 16 anos do ensino regular os que mais faltam e abandonam a escola O concelho da Ribeira Grande tem uma plataforma pedagógica, integrada no Plano Concelhio de Combate ao Abandono e Absentismo Escolar, e que permite uma interacção mais assídua entre as escolas e a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ).

Esta ferramenta. que fará parte do regulamento interno de cada escola do concelho enquanto instrumento de trabalho, permite que a escola também sinalize crianças que estão em risco de abandono escolar mas também verificar os alunos que estão a ser acompanhados pela CPCJ.

A ferramenta já tem sido usada e ontem, nos -Encontros sobre Educação na Ribeira Grande" que se debruçaram sobre "absentismo e abandono escolares", Paula Dutra. Borges, representante da Direcção Regional da Educação na CPCJ da Ribeira Grande, referiu que permite ter acesso a estatísticas nomeadamente quantas alunos forma sinalizados por escola, por nivel de ensino e ter uma noção do panorama geral do concelho.

Para já, são os jovens entre os 13 e os 16 anos que frequentam o ensino regular quem mais falta e abandona a escola no concelho da Ribeira Grande. Esta. ferramenta usada no concelhu permite um estreitamente do diálogo entre as escolas e a CPCJ, mas Paula Dutra Borges admite que há ainda necessidade de melhorar esta plataforma no sentido de perceber quantos alunos sinalizados provêm de famílias desestraturadas. ou quantos dos casos abertos são reincidentes, ou quantas destes casos foram acompanhados pelos serviços de psicologia.

Para garantir haja êxito nas estratégias dctinidas, Paula Dutra Borges defende que "deve haver apenas um plano dc intervenção para cada um dos jovens" que geralmente vêm de famílias onde há situações de violência. negligência e mesmo falta de comunicação em casa.

Mas a responsável alerta que nem sempre há tempo na sala de aula -para perceber as necessidades e as desmotivações dos alunos" e que "o professor não é remédio para todos os problemas da sociedade". No entanto, "deve investir-se mais na articulação e no diálogo aberto e franco", concluiu.

Paula Dutra Borges falava no painel "familia - escola - sociedade: constrangimentos e desafios", onde esteve também a presidente da UMAR, Maria José Raposo, que também integra a CPCJ da Ribeira Grande, e alertou para algumas situações de violência familiar que devem ser tidas em conta quando se fala em insucesso escolar. "Grande parte dos miúdos vem de um ambiente familiar desestruturado" e os técnicos têm de observar os comportamentos que as crianças e jovens desenvolvem e aos indicadores de risco. "Cada criança é única e é nossa obrigação estarmos atentos à diferença", explicou Maria José Raposo que é da opinião que "em caso de dúvida, se sinalize" a criança uma vez que o "sexto sentido fundamentado pode querer dizer alguma coisa". Mas a presidente da UMAR defende que "Nunca é de ânimo leve que uma criança e retirada da familia e é o último recurso", explicou ao acrescentar que é a família que é "a base de tudo e é tarobém um espaço determinante para a criança aprender na sua trajectória de vida".

Por seu lado Nélia Amaral, Coordenadora da Equipa Técnica do Comissariado dos Açores para a infância, alertou que as próprias escolas "Não podem ser um instrumento dc exclusão" das crianças e jovens e que enquanto é defendida uma escola inclusiva, "as escolas nem sempre têm os recursos necessários para levar a bom porto essa inclusão" e defendeu que os professores deveriam ter uma outra aquisição de competências que permitam "que as crianças estejam na escola com o máximo de igualdade de circunstâncias".

Nélia Amaral defendeu que a escola deve estabelecer parcerias entre as várias instituiçaes que lidam de perto com os casos mais problemáticos de jovens e das suas famílias, como as CPCJ e os serviços de acção social.
Mas deixou a interrogação "yuc espaço tem a escola para essas parcerias?".

Fabiola Cardoso, professora da Escola Secundária da Lagoa que pertence à Comissão Coordenadora do ProSucesso e antiga Directora Regional da Educação, apresentou por seu lado um projecto levado a cabo nas três escolas do concelho da Lagoa. O projecto comunitário para o sucesso educativo envolveu envolve actualmente 146 alunos sinalizadas ao Instituto da Segurança social dos Açores (ISSA), mas logo nas primeiras análises apenas 38 destes alunos eram de famílias acompanhadas pelo ISSA. Fabiola Cardoso explicou que foram estabelecidas parcerias e o contacto directo entre os técnicos de acção social e os directores de turma e foram envolvidos os alunos e as familias para que se comprometessem com o sucesso educativo_ Os resultados iniciais dão conta que depois da intervenção dos técnicos, por exemplo, o número de pais que passou a supervisionar os trabalhos escolares dos filhos aumentou substancialmente.
Além disso, no 1" período, o número de alunos em risco de retenção por ciclo reduziu, bem como as medidas disciplinares aplicadas aos alunos. Apesar de preliminares, os resultados do 2° período indicam que também baixou o número de alunos em risco de retenção.

Carla Dias Mas também há casos de sucesso nos cursos alternativos que dãoferramentas mais áticas A Escola secundária da Ribeira Grande tem há dois anos Cursas de Formação Vocacional (CFV) que dão aos alunos a equivalência ao V' ano de escolaridade. Actualmente há 43 alunos nestes cursos, divididos por três turmas. Uma turma de 16 alunos do 1" ano no curso de educação sócio cultural, e duas turmas de 27 alunos, do 2° ano dos cursos. de educação sócio cultural, padaria e pastelaria e restauro.

Carla Batista Saudade, coordenadora dos Cursos de Formação .Vacacional do 3° ciclo da Escola Secundária da Ribeira Grande, traçou um perfil destes cursos que implementam planos de recuperação individuais e onde há urna componente vocacional prática e até a necessidade de realizarem estágios. Contudo alertou para a necessidade de haver currículos mais flexíveis, e tempo e espaço de trabalho adequados bem como a necessidade de se organizar urna bolsa de amorosas que queiram colaborar com a escola nos estágios.

Duas destas turmas e directora de turma de uma delas, deu o seu testemunho pessoal onde contou que além de leccionar inglês também tinha de ensinar técnicas de pastelaria e padaria, bem como "conversas sobre postura, respeito e vestuário adequado a uma escola eram diárias".

Perante 16 adolescentes entre os 15 e os. 17 anos que se recusavam a realizar tarefas, yue não se reviam na escola e que riem ali queriam estar, muna pequena sala apenas com um fogão e um lava loiça, a professora garante que foi importante realizarem visitas dc estudo "a todas os locais dc padaria e pastelaria do concelho", até que visitaram o museu municipal que tem um forno de lenha.

Aquele forno passou a ser quase urna extensão da sala de aula e a motivação passou a ser diferente.
muito com o apoio cio Centro de Inclusão Juvenil (CDU) Escolha Certa que também ajuda nas.
aulas de orientação pessoal. Os técnicos do CDU reúnem semanalmente com os docentes e responsáveis dos cursos e são feitas as planificações.

para a semana seguinte "mas também se trocam experiências" e definem-se estratégias de como encarar e ajudar jovens adolescent.es que não querem estrs na escola e não vtêm mais-valias em concluir o seu percurso escolar. No final, e depois do sociólogo Rui Tavares ter apresentado um vídeo onde alguns dos alunos manifestam a maisvalia de terem seguido um curso dc formação vocacional, foram os próprios alunos que agradeceram às professoras responsáveis entregandolhes uma flor em jeito de homenagem. CD.
Alguns alunos do CFV agradecem às professoras