3.10.07

Assaltantes deixam ciganos em pânico

Ana Correia Costa, Alexandra Lopes e Liliana Rodrigues, in Jornal de Notícias

Comunidade cigana de Santo Tirso vive assustada e em permanente vigilância, com receio de vir a ser atacada


Montam vigílias ao cair da noite e quase ninguém prega olho. O medo impede o sono, que andará fugido desde a última sexta-feira à noite quando um tiroteio surpreendeu o acampamento cigano de Monte Saltos, na freguesia de Sequeirô, em Santo Tirso. Não mais se deixarão surpreender. Estas precauções estão a tornar-se uma rotina em comunidades ciganas, depois de várias incursões de um grupo de homens encapuzados e fortemente armados em vários acampamentos, desde Aveiro até Viana. A situação está a provocar o pânico entre a comunidade, de tal forma que foram já vários os pedidos de ajuda às autoridades.

Os ciganos de Monte Salto prometem continuar "acordados". "Se eles vierem aqui, é à queima-roupa", ameaça António Soares. "E estamos armados, porque é mesmo assim", avisa. Anteontem de manhã já estavam prevenidos, quando um carro estranho se abeirou do lugar. Mas não estão dispostos a facilitar. Todos os miúdos faltaram às aulas e, para três meninas - as mais pequenas -, a rotina repete-se há oito dias. "Há uma semana que a minha filha não vai para a escola de Santo Tirso porque tenho medo", diz Romero Soares.

"Temos referência a um furgão branco, com seis a sete indivíduos, alguns deles de etnia cigana, que encapuzados e armados em alguns casos com shotguns, entram de rompante nos acampamentos", confirmou ao JN uma fonte da GNR. Segundo foi possível, apurar, os casos mais violentos nunca são admitidos pelas comunidades visadas, mas são várias as situações em que é pedida a ajuda das autoridades.

"Começamos a fazer patrulhamento desde quinta-feira passada no sentido de garantir segurança no acampamento", confirma ao JN o sargento Dias da GNR de Santo Tirso. "Temos duas patrulhas prontas para arrancarem para lá, se necessário, e carros descaracterizados a passarem por lá constantemente", descreve.

Mas o temor não abandona as 16 famílias que habitam os barracões. As crianças falam depois de os adultos terem recolhido aos respectivos afazeres. Empoleirado na bicicleta, André Ximenes confessa que o irmão "dormiu com uma tesoura". A amiga Sandra, dona de uns 12 anos franzinos, quer contar o que os mais crescidos apenas sugeriram. "Uma menina de Famalicão está no hospital toda esfaqueada. Dá medo". Emília Borges, vizinha do acampamento, partilha o desassossego. Garante que nunca viu nada de suspeito, mas sabe que "andam a meter medo às pessoas".

Ao que o JN conseguiu apurar, também em Famalicão a comunidade cigana vive em desassossego. Mas ninguém admite que o fenómeno tenha chegado ao concelho. Uns dizem-se preparados para o que der e vier. Mas outros confessam reservadamente os seus receios, chegando até a admitir que o grupo terá "rondado" os bairros ciganos do concelho há cerca de três semanas mas, não terão concretizado qualquer acção.

Sem queixas

Segundo o que o JN conseguiu apurar, o grupo foi detectado há cerca de duas semanas e desde então já foram registados oito casos (ver infográfico). Surgem sempre a coberto da noite e levam o que apanharem de valor (ouro e dinheiro). Por enquanto não foi apresentada, em nenhum dos oito casos registados, qualquer queixa por furto ou roubo.

Durante o passado sábado, um caso foi assinalado no Porto, no qual terão sido efectuados vários disparos. Em Matosinhos há outra situação sinalizada, assim como em Estarreja onde uma mulher terá sido ferida por uma bala. Há outros relatos de actividades do mesmo grupo em Vila Verde.

Os últimos casos registaram-se na madrugada de ontem. Em Viana do Castelo uma testemunha terá telefonado para a Polícia a dar conta de uma situação de "agitação anormal" no bairro de Aguieira, em Vila Nova de Anha, na mesma noite, em Barqueiros, Barcelos, ciganos pediram ajuda à GNR local devido à presença do referido furgão branco. A patrulha não encontrou nada de anormal, apesar do medo e pânico evidenciado pelos habitantes do acampamento.