Idálio Revez, in Jornal Público
Dois dias de ventos contrários desviaram a embarcação para o Algarve. Ao fim de quatro dias à deriva, deu à costa na ilha da Culatra.
Um barco com 23 imigrantes marroquinos, entre quais cinco mulheres, deu ontem à costa, na ilha da Culatra, no Algarve, depois de ter andado quatro dias à deriva. O destino de desembarque não seria o Algarve, mas "qualquer coisa teria corrido mal" na travessia. Quando chegaram a terra, com fome, sede e frio, alguns ainda tentaram a fuga para a liberdade, mas acabaram todos por ser capturados pelas autoridades portugueses.
O alerta do desembarque foi comunicado às autoridades marítimas pela Associação de Moradores da Culatra. Os primeiros elementos da Marinha só chegaram ao local cerca de meia hora depois da chamada. A partir dessa altura, 13h40, desencadeou-se uma operação de "caça aos fugitivos". O Serviço de Protecção Civil enviou um helicóptero e os meios militares foram reforçados para montar o cerco. Porém, na ilha não houve fuga possível. Ao fim de mais de quatro horas de perseguição, já quase ao cair da noite, acabaria por ser detido o último fugitivo.
Entre um grupo de quatro imigrantes que tentaram não ser detidos pelas forças policiais encontrava-se uma jovem de 15 anos. Ao encetar uma corrida, caiu e sofreu uma entorse numa perna. Depois de receber assistência médica num posto do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), em Olhão, acabou por ser transferida para o Hospital Distrital de Faro, juntamente com um outro colega de viagem, com sintomas de hipotermia.
Ao final do dia, nas instalações da Capitania do Porto de Olhão, a governadora civil, Isilda Gomes, declarou: "A situação está controlada". Todos os passageiros do barco foram detidos. Os inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) procediam a inquéritos, procurando saber de onde vinham e para onde iriam os imigrantes.
O director regional do SEF, José van der Kellen, questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de situações semelhantes virem a repetir-se, disse que este foi um caso "excepcional", e que nada leva a crer que o Algarve "seja uma zona de risco iminente". A governadora civil, assumindo o papel de coordenadora das várias forças policiais e militares, declarou: "Todos os meios foram accionados, e a operação correu muito bem, todos os meios se articularam de forma correcta e não foi necessário activar o Plano de Emergência".
O comandante da Zona Marítima do Sul, Reis Ágoas, por outro lado, acrescentou que, ontem, foram postos à prova os exercícios de simulação de perigo que as várias forças policiais, em conjunto, têm desenvolvido. "Estamos preparados - colocámos em campo aquilo que temos vindo a fazer". Interpelado sobre se os imigrantes ofereceram resistência, respondeu com um "obviamente". Van Der Kellen insistiu na ideia de que "tudo indica que Portugal não fosse o destino" inicial. Dois dias de ventos contrários terão feito mudar o rumo da embarcação e os imigrantes acabaram por alcançar a costa portuguesa.
O comandante da Marinha Portuguesa Silvestre Correia receia que esta situação possa repetir-se quando Espanha reforçar a vigilância nas suas fronteiras: "A partir do momento que Espanha consiga garantir a protecção das suas linhas costeiras e quando existirem boas condições de mar, os fluxos de imigração ilegal vão chegar à costa algarvia". O caso da ilha da Culatra, explicou o comandante, citado pela Lusa, veio confirmar as preocupações do chefe de Estado-Maior da Armada "em manter a Marinha equipada e capaz de fazer frente a esta vaga, que representa uma ameaça para a segurança e estabilidade do país". E disse temer que "este fenómeno possa vir a assumir proporções mais amplas".
Os imigrantes vão ser hoje ouvidos no tribunal, que decidirá que medida de coacção deve ser tomada.
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Entre um grupo de quatro imigrantes que tentaram não ser detidos encontrava-se uma jovem de 15 anos