Ciganos realojados devolvem jardim

Inês Schreck, in Jornal de Notícias

Retroescavadora destruiu as construções ilegais em poucos minutos

Há 25 anos, Fernanda Maia Gimenez e a família, de etnia cigana, ocuparam o jardim e parque infantil do Bairro dos Pescadores, em Matosinhos. Arrumaram as trouxas num cubículo com quatro paredes em cimento e foram crescendo num emaranhado de barracas e galinheiros. Até ontem. Em poucos minutos, a retroescavadora destruiu o que levou uma vida a pôr de pé. Ainda que fosse nada.

Fernanda, hoje com 51 anos, realojada com mais 12 familiares no Conjunto Habitacional do Seixo, olhava de soslaio o braço da máquina a empurrar as paredes, como se fossem de papel. Está "triste e feliz ao mesmo tempo". Com saudades do bairro, onde viveu metade da vida, e contente com a nova habitação. "Não tínhamos casa de banho. Para nos lavarmos era à mangueirada", conta. Agora, tem torneiras e tem água quente, "um luxo".

Com a demolição das barracas, o Bairro dos Pescadores voltará a ter um jardim com parque infantil e a Câmara dá por quase terminada a tarefa de erradicar este tipo de construção no concelho. Quase porque, explicou Guilherme Pinto, houve um pequeno retrocesso na demolição das barracas de duas famílias de Custóias, prevista para hoje.

O presidente da Câmara informou, ainda, que está em curso um estudo para requalificar o Bairro dos Pescadores, cujo projecto deverá ser candidatado ao Quadro de Referência Estratégica Nacional. Uma das ideias é melhorar ou demolir alguns dos anexos que foram sendo construídos junto às casas. Um processo que passa pelo "diálogo" com os moradores, até porque alguns são proprietários.