Paulo Baldaia, in Jornal de Notícias
Por seis meses, a Europa falou com o resto do mundo em português. A presidência da União Europeia revelou-se um êxito muito por causa do trabalho conjunto desenvolvido pelo primeiro-ministro e pelo presidente da Comissão Europeia.
"Foi porreiro, pá!". O desabafo que José Sócrates pretendia que tivesse ficado pelo ouvido de Durão Barroso foi captado por um microfone e ficará para a história. Mais do que o êxito em que se tinha tornado a cimeira do Tratado, este "porreiro, pá!" revelou que Lisboa e Bruxelas remaram para o mesmo lado, durante a presidência portuguesa da UE. A qualidade do trabalho de cada um deles foi reconhecido pelo outro, numa espécie de "eu diria mais" de Dupont e Dupond - personagens da colecção Tintin.
A reunião da Penha Longa - com Sócrates, Barroso, Merkel e o primeiro-ministro da Eslovénia -, antecipando a presidência portuguesa, foi apenas a face visível de uma estratégia em que os dois políticos portugueses ganharam com o êxito colectivo.
Durão e Sócrates estabeleceram uma "parceria útil e permanente", em que sobressaiu uma "grande cooperação mútua", diz o gabinete do primeiro-ministro. Ou seja, o Bloco Central estabeleceu, desta vez, um eixo entre Lisboa e Bruxelas.
A assinatura do Tratado de Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, foi a cereja em cima de um bolo que teve como principal ingrediente a Cimeira Intergovernamental, mas que foi feito também com outras cimeiras. Em português, a Europa trouxe África para o primeiro plano e continuou a fazer caminho com os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) que puxam pela economia mundial.
Fernando Pessoa via a Europa fitando o Ocidente, José Sócrates e Durão Barroso puseram-na a fitando o mundo inteiro. E, por breves instantes, deram vida às palavras do poeta "O rosto com que fita é Portugal".