Alexandra Marques, in Jornal de Notícias
Cumprimentos do Governo ao presidente foram menos calorosos
Cavaco Silva afirmou, ontem, esperar que a fórmula de sucesso aplicada pelo primeiro-ministro à frente da União Europeia (UE) possa produzir o mesmo efeito na governação do país. Em Belém, na sessão de cumprimentos de Natal, o presidente da República (PR) disse esperar que o "indiscutível sucesso" da presidência da UE "funcione como um tónico para eventuais dificuldades que possam surgir" durante 2008.
A frase foi entendida como um presente 'espinhoso' do chefe de Estado a um Governo presente em peso - só três ministros se fizeram representar por secretários de Estado. Pelo elogio ao trabalho dos últimos seis meses em prol da UE, mas também por afirmar que esse espírito deve ser aplicado no país, onde deixou claro considerar previsível que surjam problemas num futuro próximo.
Num tom bem mais formal e de advertência, que esteve afastado na mesma cerimónia em 2006, Cavaco disse ainda ter sido um ano de "cooperação entre órgãos de soberania" que decorreu "sem sobressaltos" e que este "espírito construtivo" deve ser cultivado durante todo o ano. Onde também se notou diferença e um maior distanciamento entre ambos, foi nas palavras do chefe de Governo. Em 2006, Sócrates enalteceu o "comportamento absolutamente impecável" de Cavaco. "Gostamos de trabalhar consigo", referiu num tom coloquial e até de camaradagem entre os dois órgãos de soberania. Há um ano, Sócrates disse ser mais do que justo agradecer "o empenhamento do PR numa cooperação institucional à altura das necessidades do país". "Isso tem-nos ajudado muito" frisou. Ontem, após um Verão carregado de vetos presidenciais e do envio de alguns diplomas para o Tribunal Constitucional, Sócrates foi mais comedido nas loas a Cavaco. Agradeceu "todo o empenho e toda a ajuda" recebida, numa declaração deferente, mas breve, e justificou que este ano foi "muito exigente" devido ao exercício da presidência da UE.