Hugo Torres, in Jornal Público
A reinserção social deixou de ser um conceito abstracto para os moradores do Porto. É desde ontem uma loja, sita no 1804 da Rua da Alegria, e serve para expor e vender produtos executados pelas reclusas do Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos.
A Loja da Solidariedade abriu "com criatividade, mas sobretudo com vontade de dar um passo seguro", declarou o secretário de Estado Adjunto da Justiça, José Manuel Conde Rodrigues, presente na inauguração. Trata-se de uma "parceria forte" entre a Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) e o Ministério da Justiça, que quer mostrar à restante comunidade que um período de clausura "não é o mero cumprimento de uma pena", mas uma "oportunidade nova".
O projecto é único em Portugal. As prateleiras são cor-de-rosa, porque reclusas é uma palavra feminina, embora a porta esteja aberta aos restantes reclusos do Grande Porto. À venda estão pequenas telas, trabalhos de tapeçaria, flores de madeira envernizada e vidro opaco, subversões de sacos de café e caixas de chocolates. (O aquecedor, a cadeira e a árvore de Natal não estão à venda.) O provedor da SCMP, José Luís Novaes, diz que esta é uma forma de responsabilização. Conde Rodrigues prefere falar de "autonomia através do rendimento" e na importância do trabalho na busca de segundas oportunidades.
Exemplo que colige todas estas ideias é o da reclusa que vai trabalhar a tempo inteiro na Loja da Solidariedade, "em regime aberto, voltado para o exterior". Está actualmente a cumprir pena em Santa Cruz do Bispo, mas o salário está garantido pela SCMP, que, de resto, é a entidade que suporta todos os custos do projecto. O resultado das vendas reverte integralmente para as respectivas criadoras.