24.3.09

Mais fome leva Cáritas a criar refeitórios sociais

por Rita Carvalho, com Susana Pinheiro, Diário de Notícias

Carências das famílias levam à criação de novas respostas sociais, como vales para fazer compras no supermercado, ou refeições que são levadas para tomar em casa


Em Beja, os pedidos de ajuda alimentar à Cáritas subiram quase 35%. Na casa de apoio aos sem- -abrigo de Coimbra, já comem diariamente 40 a 60 pessoas, e na diocese de Braga 30 utentes também recorrem às refeições sociais. As carências alimentares das famílias estão a crescer de tal forma que a Cáritas está a estudar o alargamento destes refeitórios sociais a outras dioceses do País. Mas há mais indícios da gravidade da crise. Segundo a Cáritas, cada vez mais pessoas procuram os balneários para fazerem a sua higiene.

Nalgumas dioceses estes refeitórios sociais serão instalados em estruturas já existentes, como lares que servem refeições mas cuja abrangência será alargada, noutras vai ser estudada uma nova resposta. Para matar a fome às dezenas de pessoas que diariamente continuam a chegar, estão já em curso outras soluções: cabazes de alimentos para confeccionar em casa, vales para as famílias fazerem compras no supermercado, ou distribuição de refeições para tomar em casa.

Outra solução, praticada por exemplo em Lisboa, é o encaminhamento das pessoas para centros paroquiais ou outras estruturas, mais próximas da residência, onde possam comer sem pagar. O custo é suportado pela Cáritas.

"Queremos prestar ajuda a pessoas novas que estão a aparecer, tentando proteger a sua intimidade", disse ao DN Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas nacional. Há dioceses que já têm esta distribuição de refeições, nomeadamente aos sem-abrigo, mas estas pessoas, de outro nível social, têm reticências em expor-se. Em Setúbal, por exemplo, comem a horas diferentes dos utentes habituais ou levam a refeição para casa.

Na valência de Braga, apesar do serviço ter começado em 2005, comem diariamente 30 pessoas - na maioria homens entre os 25 e 35 anos, desempregados, que vivem em quartos alugados ou sem condições e que têm problemas de álcool ou toxicodependência. Mas aqui a crise também se faz sentir, com o aumento de pedidos de apoio: mais 150 no ano passado.

Em Coimbra, a diocese já está a preparar uma solução de refeitório social, que será complementar às outras respostas já existentes na cidade. Ao DN, o padre Luís explicou que está a ser estudada uma distribuição de refeições à noite em dois pontos da cidade. "É preciso ir ao encontro destas pessoas, pois são de um classe social diferente que procura ser discreta. Pois quando se usa uma gravata é difícil estender a mão."

O responsável diocesano diz que na casa do Farol, dirigida a sem-abrigo e fora do centro, são servidas 40 a 60 refeições diárias, mas agora quem procura ajuda são famílias e desempregados.

Eugénio Fonseca sublinha, contudo, que esta resposta social em estudo é muito dispendiosa e não pode ser suportada durante muito tempo. Além disso, mais do que acudir a emergências, o propósito da organização é "ajudar as pessoas a reconstruir o seu projecto de vida".