20.3.09

Tuberculose pode crescer devido à crise

Helena Teixeira da Silva, in Jornal de Notícias

A incidência da tuberculose tem vindo a decrescer 7,2% por ano, em Portugal. Na última década, o risco de contrair a doença diminuiu para metade. Mas a recente crise económica pode deitar tudo a perder. Jorge Sampaio diz estar preocupado.

"A crise económica pode ter consequências muito sérias em matéria de saúde, nomeadamente no abrandamento do combate à tuberculose", afirmou, ontem, Jorge Sampaio, enviado especial das Nações Unidas para a Luta contra a Tuberculose.

Numa conferência com vista a antecipar o Encontro Internacional "Stop à TB", comemorativo do Dia Mundial da Tuberculose, que decorre hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, o antigo presidente da República recordou que são necessárias novas vacinas. "As que existem têm mais de dez anos e já não são suficientemente eficazes". Além disso, "não se fez investigação científica suficiente. Se não houver mais laboratórios e investigação mais rápida, a probabilidade de contágio vai aumentar". Sobretudo nos 22 países - nove são em África - mais atingidos, "e nos quais a redução do PIB pode atingir os 7% ao ano". Sendo curável ao fim de seis meses e por 20 euros, a tuberculose continua a matar mais de 1,5 milhões de pessoas por ano.

Em Portugal, a resposta à doença tem sido positiva. Fonseca Antunes, coordenador do programa de combate à tuberculose, afirmou que o país está acima da meta estipulada pela Organização Mundial de Saúde. "O objectivo era conseguir notificar 71% dos doentes; temos uma taxa de 91%".

João Paço, um dos responsáveis do grupo privado José de Mello, que pediu a Sampaio para associar-se ao "Stop à TB", ressalvou, no entanto, que "não basta detectar a doença; é preciso monitorizá-la: saber quantos se curam, não curam ou desenvolvem multirresistências". Será para esse desafio, torna Fonseca Antunes, "que os privados são convidados a entrar".

Jorge Sampaio elogiou esta "parceria público-privado" - acredita que, no futuro, outros grupos hão-de associar-se -, mas pediu o favor de não confundirem a participação do Grupo José de Mello no encontro com qualquer espécie de "favoritismo". "É preciso o empenho de todos para conseguir vencer a doença", sublinhou.

A prioridade, agora, prende-se com a emergência das multirresistências da doença. "É uma das formas de insucesso na aplicação e implementação do sistema de controlo da tuberculose", reconheceu Fonseca Antunes. "Podemos distribuir a culpa por todos, desde os técnicos aos políticos".