19.3.09

Barqueiros território prioritário

Nuno Passos, in Jornal de Notícias

Alunos ciganos vão continuar numa só turma, mas com reforço de meios materiais e humanos


A turma de alunos ciganos separados dos demais vai manter-se, mas com reforço de meios humanos e materiais. O Governo reconheceu os problemas especiais existentes na escola de Barqueiros e atribuiu-lhe estatuto prioritário.

O Ministério da Educação integrou ontem a EB1 de Lagoa Negra, em Barqueiros, Barcelos, nos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), atribuindo um "reforço humano e material" ao estabelecimento, com a possível contratação de mediadores, assistentes sociais e técnicos da área. A meta é "melhorar ainda mais" o projecto-piloto da turma de 17 alunos ciganos, dos 9 aos 18 anos de idade, isolados dos restantes, num pré-fabricado no recreio. A decisão tem gerado acesas críticas de deputados do Parlamento e das mais diversas associações.

"Vamos corrigir as condições de trabalho e os problemas especiais. Mais vale tarde do que nunca", acrescentou ontem de manhã aos jornalistas o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos. Notou que a escola básica terá ainda uma equipa de acompanhamento à referida turma, com peritos da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), da Universidade do Minho e da coordenação nacional dos TEIP. A fórmula pedagógica TEIP está presente em 59 escolas nacionais, que têm contextos socioeconómicos fragéis e altas taxas de abandono e insucesso escolar. Em Barqueiros, há dois acampamentos ciganos.

Ao início da tarde, a responsável da DREN confirmava na EB2,3 Abel Varzim, sede do agrupamento que integra Lagoa Negra, as medidas tomadas na reunião da véspera com a ministra da Educação, Lurdes Rodrigues, e Valter Lemos. Era a resposta às recentes notícias e um prémio ao agrupamento, que até este caso mediático acumulava elogios académicos na inserção educacional dos ciganos desde 2004.

"O projecto de Barqueiros vai-se manter e em avaliação contínua. Mas numa nova etapa, com mais meios, correspondentes à especificidade da situação, onde a todo o tempo os alunos poderão ir em definitivo para o ensino regular", disse Margarida Moreira, que ao contrário do previsto não visitou a EB1 visada, "talvez um destes dias o faça". Realçou que a matriarca cigana "vai ser informada" das novidades.

Por outro lado, Moreira minimizou o facto de a turma ter aulas num monobloco, "só no Norte haverá 20.000 jovens assim" e lamentou os "surfistas políticos" que se aproveitaram do caso. Quanto à hipótese de a União Romani se manifestar na sequência do tema de Barqueiros, não se sentiu "acusada": "O mais fácil era fechar os olhos aos alunos, mas fomos ter com eles".

Já a presidente do agrupamento, Conceição Lamela, que enfim falou à imprensa, crê que a nova ajuda "é uma oportunidade como nunca": "O TEIP trará mais autonomia e reforços para os nossos 1500 alunos". Sobre a badalada turma, frisou está em causa o grupo em si, com "competências básicas muito desfasadas dos restantes alunos", e não a comunidade cigana. Exemplificou que nas outras duas turmas da escola há cinco crianças ciganas.

Enumerou igualmente algumas benesses dadas à já chamada "turma do contentor": dois professores para 17 alunos, mais do dobro da média regular; horários próprios, pois de manhã faltava-se muito; refeições grátis; aulas na EB2,3 de Educação Física, TIC e Espanhol, que substitui o Inglês por "não se adaptar" à etnia. Ontem à tarde, Manuel Monteiro, ex-líder do CDS/PP e PND e candidato a deputado pelo movimento Missão Minho, visitou a escola.