Andreia Sanches, in Jornal Público
Escolas estão cada vez mais atentas ao fenómeno da violência entre alunos, diz Associação Nacional de Professores
A linha telefónica destinada a dar apoio em casos de bullying nas escolas funcionou apenas duas horas por dia e houve vários problemas técnicos. Mesmo assim, em seis meses, foram relatados nove casos à equipa mobilizada pela Associação Nacional de Professores (ANP). Numa das situações, a vítima tentou suicidar-se.
O bullying acontece quando um ou vários alunos exercem acções agressivas sobre outro, de forma insistente e continuada: chamar nomes, humilhar, bater, excluir, seja nas aulas, nos recreios, à saída da escola... Pode durar anos. Pode ter "consequências desastrosas", diz João Grancho, presidente da ANP.
Os dados constam de um relatório de balanço do funcionamento do serviço, a que o PÚBLICO teve acesso. João Grancho não dá pormenores sobre o caso do aluno que tentou suicidar-se. Diz que quem liga para a linha (pais, alunos vítimas ou professores que não sabem como lidar com um caso de bullying entre os seus alunos ou querem saber mais sobre o que devem fazer) deve ver a confidencialidade do que expõe assegurada.
Os agressores são geralmente rapazes, extrovertidos, com dificuldades de autocontrolo, fraco envolvimento escolar e uma rede de "amigos" na escola que valorizam os seus comportamentos. A linha propõe-se ajudar partilhando estratégias e técnicas para lidar com o fenómeno.
O bullying "não leva directamente ao suicídio", explica Margarida Gaspar de Matos, professora da Universidade Técnica de Lisboa, psicóloga, coordenadora em Portugal do estudo Health Behaviour in School-Aged Children, da Organização Mundial da Saúde (OMS), no âmbito do qual são regularmente recolhidos dados sobre bullying e outros factores que interferem na saúde dos adolescentes.
Contudo, os alunos vítimas "podem experienciar problemas emocionais sérios", continua a psicóloga. E se vários "eventos negativos de vida" se conjugarem ao mesmo tempo, uma depressão pode surgir - imagine-se, exemplifica a psicóloga, uma vítima de bullying na escola, que começa a ter más notas e que subitamente tem que lidar com a separação dos pais. Seria um caso típico de "colapso de bem-estar". Há estudos que mostram que quatro eventos negativos em simultâneo podem levar a uma depressão.
Humilhado e excluído
Recentemente, o Correio da Manhã relatou a história de um aluno de 14 anos que se suicidou. Era humilhado e excluído pelos colegas e, segundo a reportagem, a família associa a morte do jovem às provocações e agressões sistemáticas dos colegas. O colégio, que se recusou falar com o PÚBLICO, diz que não é assim. E que vários outros factores contribuíram para o fim trágico do aluno.
Certo é que a atenção das escolas ao fenómeno do bullying tem aumentado. Grancho diz que a ANP é cada vez mais solicitada para ir às escolas falar do problema. "No final de cada sessão há sempre três, quatro, cinco alunos que vêm ter connosco. Alguns estão em situações de desespero."
A ANP está a concluir uma brochura sobre bullying, dirigido a alunos, para distribuir gratuitamente pelas escolas a partir de Maio. E a linha telefónica, que começou por receber o nome de "Linha alunos e famílias - bullying", deverá ser rebaptizada já no 3.º período escolar. Deverá chamar-se, simplesmente, Linha Bullying. A ideia é dar-lhe mais visibilidade como um instrumento a que crianças e pais podem recorrer. Os problemas da linha (relacionados com o encaminhamento do 808968888 para cada um dos números dos técnicos) estão a ser resolvidos pela operadora.
"É possível ensinar a uma criança estratégias para deixar de ser vítima de bullying", afirma por seu lado Gaspar de Matos. A psicóloga já trabalhou com alguns casos.
Os sinais de alerta, esses, estão identificados, como se recorda no livro Violência, Bullying e Delinquência, de que Gaspar de Matos é co-autora, e que foi lançado esta semana (Edição da Coisas de Ler) como mais uma ferramenta de trabalho para quem trabalha com crianças. Baixa auto-estima, ansiedade, dores de estômago e outros sintomas físicos, dificuldades de concentração e de aprendizagem, isolamento, propensão para o suicídio - são apenas alguns dos traços que são identificados como fazendo parte do "perfil da vítima".
Linha Bullying: 808968888
Horário das 18h00 às 20h00,
de segunda a sexta-feira