Manuel Carvalho, in Jornal Público
João Teixeira Lopes e D. Manuel Clemente recusaram ideia de que falta dinamismo social à cidade num debate do ciclo Olhares Cruzados sobre o Porto
Não é necessário invocar o séc. XIX, quando o espírito burguês do Porto foi decisivo para o triunfo do liberalismo, para se medir as dinâmicas da sociedade civil na cidade. Nos anos 50, o jornalista Germano Silva identificou um surto de grande mobilização depois da campanha de Humberto Delgado, quando o Porto "descobriu que tinha forças para reivindicar" e se afirmar política ou culturalmente no país. Ou, ainda em tempos mais próximos, quando, na sequência da classificação da Ribeira como Património Mundial e da Capital Europeia da Cultura, a cidade deu sinais de se preparar para nova fase de grande agitação. Esses sinais "não se confirmaram", reconhece Germano Silva. Mas quer isso dizer que a sociedade portuense está apática?No debate que anteontem se realizou no âmbito do VI Ciclo de Conferências Olhares Cruzados Sobre o Porto, os dois oradores convidados, o sociólogo João Teixeira Lopes e o Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, responderam "não". A falta de "espaços públicos de qualidade" contribuem para o "retraimento" das pessoas na esfera doméstica, considerou Teixeira Lopes; nos nossos dias, é urgente "refazer a cidade, a solidariedade e a vizinhança", acrescentou D. Manuel Clemente. Mas, ainda assim, abundam sinais de inconformismo e de dinamismo social, reconheceram.
Teixeira Lopes aponta a animação de Miguel Bombarda, das Galerias de Paris ou de Cândido dos Reis como prova da possibilidade de se "criar um movimento, apesar das hostilidades do poder central e municipal". E afirma que, se não fossem as instituições de solidariedade civis, "a situação social do Porto seria catastrófica". D. Manuel reforça a ideia com outro exemplo: o número de pessoas que anteontem quase lotaram o auditório da Universidade Católica prova o interesse dos cidadãos pelos assuntos da comunidade. Os Olhares Cruzados prosseguem na quinta-feira com o tema O Porto e o mundo, com apresentação de Rui Moreira, a moderação de Manuel Ferreira da Silva e debate entre João Fernandes, director artístico de Serralves, e Diogo Vasconcelos, administrador da Cisco.